Saiba tudo sobre a reciclagem de resíduos têxteis no Brasil

Você já parou pra pensar quantas vezes você usa a mesma roupa? E qual a durabilidade dela? Perguntas como essa colocam a indústria da moda no centro de um enorme problema ambiental e têm obrigado marcas a repensarem seu modelo de negócio e de produção. Isso porque, um volume enorme de material têxtil é desperdiçado todos os anos na confecção de roupas, usadas poucas vezes, e que na hora do descarte seguem direto para o aterro sanitário, sem qualquer possibilidade de reutilização por meio da reciclagem.

A constatação está no relatório A New Textiles Economy, um importante estudo feito pela Fundação Ellen MacArthur, instituição global que incentiva a sustentabilidade no planeta.

“O equivalente a um caminhão de roupas é enviado para o aterro ou à incineração a cada segundo, enquanto menos de 1% das fibras têxteis usadas na produção de roupas são recicladas e destinadas para a produção de novas peças”, diz Victoria Almeida, gerente de comunicação para a América Latina da entidade.

Segundo a profissional, isso representa uma perda econômica anual estimada em 500 milhões de dólares no mundo. Além disso, esse desperdício resulta em altos níveis de poluição. Existe até um termo no universo da moda para este tipo de cultura, em que o consumidor usa uma roupa que está em alta, troca a peça ou descarta e adquire outra que acaba de ser lançada: Fast Fashion.

Por conta disso, há uma urgência de se criar um modelo de economia circular para a indústria da moda. Estes novos tipos de negócio permitem que as roupas sejam usadas mais vezes e também que as peças sejam produzidas a partir de materiais seguros e de fontes renováveis.

Os consumidores são, literalmente, a peça-chave para essa mudança, ficando ainda mais atentos aos impactos ambientais que a produção de roupas causa e exigindo mudanças. “Marcas e designers já perceberam que o atual modelo não tem como funcionar a longo prazo. E, com isso, estão começando a repensar sua forma de produzir e comercializar para que as peças não se tornem um resíduo”.

CENÁRIO BRASILEIRO

Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), de 2018, indicam que o Brasil é considerado a quinta maior indústria têxtil do mundo e o quarto maior produtor de denim (tecido usado para fazer o jeans) e de malhas mundial.

“O país produziu cerca de 8,9 bilhões de peças ao total, em 2018, incluindo vestuário, cama, mesa, banho, meias e outros itens”, explica Rafael Cervone Netto, presidente emérito da Abit e coordenador da Área de Políticas Industriais.

Ele explica que desse montante, 5,1 bilhões correspondem a apenas peças de vestuário (roupas).  “É um setor que no país movimentou cerca de 50 bilhões de dólares de faturamento”.

Até 2021, em território nacional, a estimativa é de um crescimento de 13% no mercado de moda, o que pode elevar a produção em 6,68 bilhões de peças, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Tanto potencial na indústria têxtil resulta na geração de aproximadamente 160 mil toneladas de resíduos por ano no país. Isso antes da pandemia. “Também estimávamos que 50% poderiam ir para reciclagem”, fala Cervone.

De acordo com Welton Fernando Zonatti, doutor em Sustentabilidade da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Federal do Rio de Janeiro, o Brasil já conquistou importância e legitimidade no cenário mundial na área de produção de fibras, fios e tecidos. Pode parecer algo positivo para o cenário econômico, porém, gera graves problemas ambientais. Etapas como a produção de resíduos nos processos industriais, especificamente na fabricação de fios, ocasiona muitas sobras e desperdício de tecidos. E o pior: com o descarte incorreto no pós-consumo.

“Por exemplo, só na produção de fios, se for algodão, de origem natural, há o uso de pesticidas, herbicidas e outros produtos químicos para controle de pragas, que podem contaminar o solo e o lençol freático. Se for tecido de origem química, derivados do petróleo, os impactos ambientais se referem ao gasto energético e emissão de dióxido de carbono (CO2) na fabricação”, explica o acadêmico.

SÃO PAULO

Na maior metrópole do Brasil são geradas cerca de 63 toneladas de resíduos têxteis por dia. O dado é da Loga, empresa que faz a coleta na região Noroeste da capital paulista e recolhe os materiais nos locais considerados os polos da confecção: o Brás e o Bom Retiro, na zona central da cidade. A Vila Maria, na zona Norte, também é apontada pela empresa como outro lugar de grande desperdício de peças de roupas.

“Do total, 45 toneladas desses resíduos são da região do Brás, 8 toneladas do Bom Retiro e 10 toneladas da Vila Maria”, conta Francisco de Andrea Vianna, responsável pelo Planejamento e Operação da Loga.

Curiosamente, durante o período de isolamento social em que o comércio esteve fechado, a geração de resíduo têxtil caiu para 62%. Existe outro medidor desse tipo de resíduos na cidade. O projeto Sustexmoda, formado por um grupo de pesquisadores da USP, busca por meio de parcerias soluções sustentáveis para os impactos causados pela cadeia têxtil e indústria da moda.

O grupo criou uma plataforma (acesse aqui) onde é possível ver a quantidade de materiais coletados na cidade desde 2017, ano em que começou a contagem. De acordo com a criadora da iniciativa, a pesquisadora e professora da USP, Francisca Dantas Mendes, os dados são coletados a partir de cálculos que contaram com a ajuda da Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana) e da Loga.

De 2017 até 2020, foram mais de 29.169 toneladas de resíduos têxteis gerados na cidade, dos quais 23.824 são de materiais de corte produzidos em confecções e o restante de roupas pós-consumo.

Só na região do Bom Retiro, encontra-se uma concentração de aproximadamente 1.200 confecções que produzem cerca de 12 toneladas de sobras de tecidos por dia, de acordo com o Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo, o Sinditêxtil-SP.

As confecções descartam nos aterros sanitários uma enorme quantidade de sobras de tecidos e insumos, como agulhas quebradas, tubos de papelão, papel Kraft usado nos moldes e outros materiais resultantes das produções em grande escala. A ação, além de sobrecarregar ainda mais esses locais, que já estão com sua capacidade comprometida, impede o reaproveitamento desses materiais.

Algumas pessoas não sabem, mas os retalhos, quando limpos e selecionados, são passíveis de reciclagem e reutilização. O Sustexmoda, por exemplo, além de coletar dados para ter referência sobre o quanto se gera de resíduos de tecido na capital, mantém vários projetos que trabalham com as sobras têxteis, como o programa Ubuntu.

A iniciativa oferece oficinas de aprendizagem para produção de tapetes feitos com sobras de tecidos gerados nas indústrias. As aulas são dadas em Centros de Acolhida para pessoas carentes. A atividade possibilita a geração de renda com a venda dos produtos em feiras e bazares.

“Este é um projeto que está comigo desde 2015. Já passaram por nós mais de 500 alunos. É gratificante ver as pessoas em situação de vulnerabilidade aprendendo um ofício. No curso, nós conseguimos para eles, uma carteirinha de artesão para que possam exercer o ofício. Teve uma edição especial, em que eu acompanhei de perto cerca de 15 alunos. Eles tiveram apoio psicológico, pedagógico e voltaram a estudar. Cerca de 30% deles conseguiram se reerguer e sair de uma realidade difícil”, conta a pesquisadora Francisca Dantas Mendes.

Assim como o projeto Ubuntu, existem outras práticas semelhantes pela cidade de São Paulo. A iniciativa da empresa Retalhar, por exemplo, recebe uniformes usados de outras companhias e os envia para cooperativas de costureiras transformarem esses materiais em novas peças.

“As empresas pagam por esse serviço de transformação. Depois que os produtos ficam prontos, elas os recebem de volta. Dessa maneira, elas se adequam a uma logística reversa, reaproveitando as peças”, conta um dos fundadores da Retalhar, Jonas Lessa.

A Cardume de Mães, em Taboão da Serra, na grande São Paulo, é uma das cooperativas que transforma esses tecidos em nécessaires, bolsas e outros acessórios.

“Eu sou muito criativa, gosto de dar ideias sobre o que fazer com os uniformes. A minha renda vem desse trabalho e, com ele, ajudo nas contas de casa”, diz a costureira Herculânia Reis.

COMO É FEITA A RECICLAGEM DE TECIDOS

Existem duas formas de reciclar tecidos: a mecânica e a química. A reciclagem mecânica envolve a picotagem do tecido. Geralmente, as empresas recicladoras que optam por esse método possuem máquinas que rasgam e trituram o tecido. São equipamentos capazes de retalhar de 50 a 3 mil quilos de tecido por hora. As fibras trituradas são transformadas em fardos e usadas pelas indústrias para produzir enchimentos para sofás, sacos de boxe, edredons, carpetes e outros produtos.

Já o processo químico foi desenvolvido para melhorar as características e propriedades das fibras. Somente os tecidos do tipo poliéster, poliamida e elastano (todos derivados do petróleo) podem ser reciclados por meio desse método.

A recuperação química do poliéster, material também encontrado em garrafas PET e outros produtos de plástico, consiste em triturar, secar, limpar, colocar em um processo de fusão e extrusão (saída a força) a uma temperatura de 295° Celsius para se obter fios e filamentos têxteis.

O processo com o tecido poliamida e elastano ocorre separando as fibras de acordo com a cor e a qualidade do fio. Depois, elas são colocadas dentro de um tanque de aço com ácido fórmico. O conteúdo do tanque passa por um filtro que retém uma parte sólida que se forma, uma espécie de espuma.

Esse material é lavado para remover qualquer espécie de poliamida ou elastano. O líquido restante é aquecido em um condensador a 50° C, fazendo com que o ácido fórmico se evapore. Nesse processo, o tecido se transforma numa massa espessa que pode ser reutilizada na indústria têxtil ou química na produção de plásticos.

Ao todo, o Brasil possui cerca de 21 empresas que fazem a reciclagem de tecidos, de acordo com uma pesquisa feita por Mariana Amaral, acadêmica da USP. Uma dessas recicladoras é a JF Fibras, localizada a apenas 50 quilômetros de São Paulo, em Suzano. Em uma área de 12 mil m², a companhia tem se consolidado como uma das maiores recicladoras de resíduos têxteis do país, tornando-se líder no fornecimento de fibras de jeans, malhas, sintéticos e outros tipos de tecidos.

Os fornecedores da JF Fibras são as próprias confecções, indústrias têxteis e cooperativas. “Como eu compro esses materiais que são sobras, eu sempre gosto de olhar antes para ver a qualidade”, diz o proprietário da empresa Carlos Roberto Novelini Júnior. A maioria dos tecidos tem potencial de negociação para o empresário, exceto o poliéster, pois é feito de plástico e demora cerca de 200 anos para se decompor.

Novelini conta que a indústria utiliza o método de reciclagem mecânica composta por maquinários europeus de aproximadamente 20 metros de extensão que são capazes de retalhar e triturar cerca de 1,8 milhão de quilos de tecidos por mês. “A cada dez minutos, 200 quilos de retalhos são transformados em fardos de mantas têxteis, prontos para serem revendidos a outras empresas”.

O maior comprador desses itens é o setor automobilístico. Geralmente, esses materiais servem para enchimentos de bancos de carro, almofadas, ursos de pelúcia e outros itens. O empresário conta que envia esses insumos para quase todas as regiões do Brasil e para outros países da América do Sul e do Norte.

“Como empresa recicladora, acho que estou contribuindo bastante com o meio ambiente, pois os tecidos são reaproveitados e não vão parar nos aterros sanitários do país”, finaliza.

Fonte: Recicla Sampa

Governo Federal lança Certificado de Crédito de Reciclagem: Recicla+

Decreto Nº 11.044, DE 13 DE ABRIL DE 2022, ajudará a Logística reversa no mercado de pós consumo e embalagens.

 

Governo Federal lança Programa Recicla+ — Português (Brasil)

 

Estima-se que a medida, desenvolvida conjuntamente pelo MMA e ME, possa potencializar entrada de cerca de R$ 14 bilhões de investimentos, ao ano, no setor da reciclagem, que corresponde à estimativa do quanto o país deixa de ganhar atualmente ao não reciclar materiais.

Certificado de Crédito de Reciclagem funcionará da seguinte forma: cooperativas de catadores, prefeituras, consórcios, iniciativa privada e microempreendedores individuais (MEI) poderão, a partir da nota fiscal eletrônica emitida pela venda de recicláveis, solicitar o certificado de crédito de reciclagem. Ele é a garantia de que embalagens ou produtos sujeitos à logística reversa foram, de fato, restituídos ao ciclo produtivo.

 

Governo Federal lança programa Recicla+ e o Plano Nacional de Resíduos  Sólidos — Português (Brasil)

 

Todas as notas fiscais eletrônicas utilizadas para a emissão do crédito de reciclagem passarão por um rigoroso processo de homologação, realizado por verificador independente, que irá garantir a veracidade, autenticidade e unicidade da nota, além da rastreabilidade do material coletado. Há ainda o ateste do retorno da massa ao setor produtivo, realizado pelo reciclador final. Assim, a operação do sistema é validada por diferentes partes interessadas. Todo o processo ocorre eletronicamente. Cada tonelada equivale a um crédito, que pode ser comercializado junto a empresas que precisam comprovar o atendimento às metas de logística reversa.

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Meta de reciclagem e incineração no Brasil

O Brasil deve saltar de uma taxa de reciclagem por volta de 2% para 48% em 18 anos. A meta foi instituída pelo Plano Nacional dos Resíduos Sólidos (Planares) em decreto do governo federal, publicado no dia 15 no Diário Oficial.

O Plano, que vem sendo elaborado desde 2019 e entrou em consulta pública em agosto de 2020, é um conjunto de estratégias para a gestão de resíduos nos próximos 20 anos e se adequa ao que ordenam outras leis já em vigor, como a Política Nacional dos Resíduos Sólidos (PNRS, de 2010) e o Marco Legal do Saneamento (2020). A previsão é que seja atualizado a cada quatro anos.

O Plano prevê reciclagem, compostagem, biodigestão e recuperação energética. Ele reforça a meta do encerramento de lixões para 2024 — há mais de 3 mil ainda em funcionamento hoje no país, segundo os levantamentos disponíveis, e 40% dos resíduos gerados vão para locais inadequados.

Os lixões nunca foram permitidos. Depositar resíduos que causem poluição é crime ambiental desde o século passado. A PNRS determinou um prazo para o fim dos vazadouros: 2014. Essa meta depois foi postergada e escalonada pela lei do saneamento, com prazos para capitais e regiões metropolitanas terminando em 2021, e, em cidades com menos de 50 mil moradores, em 2024.

O Planares prevê recuperar 20% de recicláveis secos e 13,5% da fração orgânica e, para isso, todos os municípios devem ter coleta seletiva de orgânicos, compostagem ou digestão anaeróbia (degradação da matéria por microrganismos com produção de biogás e um substrato com propriedades fertilizantes) em escala piloto ou comercial. Em 20 anos, mais de 60% do biogás de aterros sanitários e de digestão anaeróbia deveriam viram eletricidade.

Para chegar a reciclar mais de 100 mil toneladas de resíduo sólido urbano por dia em 2040 (o país gera atualmente 217 mil toneladas/dia), como quer a meta, o plano traz a estratégia financeira, organizacional e institui como ferramenta um certificado de reciclagem.

Para custear a gestão de resíduos municipal, quem paga são os cidadãos. Toda cidade deve ter alguma forma de cobrança pelo serviço. “A meta da sustentabilidade econômico-financeira do Planares supre uma lacuna das leis. A PNRS indicava as mudanças necessárias, mas não dizia quem pagaria a conta. A lei do saneamento dizia que os titulares dos serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos deveriam instituir os instrumentos de remuneração. É importante, mas não vem para todo o sistema de gestão de resíduos. O Planares se pluga diretamente na PNRS e diz que a conta tem de ser paga por todos”, diz o presidente da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), Carlos Silva Filho.

Outra indicação importante, segundo Silva Filho, é que os municípios devem contratar legalmente catadores e cooperativas de recicláveis. Hoje, apenas 3,7% das prefeituras têm contrato formalizado. A proposta é que haja 95% de formalização de contratos com cooperativas e associações de catadores nos municípios até 2040.

O Planares lança o certificado de reciclagem nacional, centralizado, no programa Recicla +, com uma instituição verificadora. Já existem hoje empresas que emitem certificados e são aceitos pelos órgãos ambientais estaduais. O decreto reconhece a prática como válida e dá as regras. Basicamente, cooperativas e empresas de limpeza urbana que coletam recicláveis podem obter esses certificados ao venderem os materiais para indústrias recicladoras, via nota fiscal. As empresas que têm metas de logística reversa a serem cumpridas compram esses certificados para abater de suas metas.

A novidade é que as notas fiscais passam a ser verificadas por uma empresa independente nacional, contratada pelas empresas. A centralização eliminaria o risco de uma mesma nota fiscal ser usada para abater metas em estados diferentes.

A certificação pode ser uma boa ferramenta, mas, como é genérica, não faz com que as empresas busquem embalagens menos poluentes e mais recicláveis, urgência indicada por todos os estudos sérios sobre poluição plástica. Se uma empresa usa uma embalagem não reciclável de plástico, e compra certificados suficientes para abater sua meta, não haverá incentivo algum para que ela busque modificar os materiais que usa, pois os certificados designam apenas o material genérico: plástico.

Para Silva Filho, a preocupação é válida, mas a especificação poderá vir através de um aperfeiçoamento do Recicla + no futuro: “É um processo de transição e aperfeiçoamento de cultura. O sistema de créditos pode ajudar a identificar em primeiro lugar o volume dos recicláveis que existe e onde estão esses materiais. Um próximo passo poderia ser o cumprimento de metas pelo tipo de material colocado no mercado”, diz.

Os objetivos do Planares são ambiciosos. Uma meta polêmica é a de que 15% dos resíduos devem ser destinados a locais com tecnologia térmica para virar energia.

Essa parte agrada as empresas que se interessam pela incineração de resíduos, em usinas de recuperação energética ou em fornos das fábricas de cimento. A indústria de cimento usa a chamada tecnologia de coprocessamento, em que o resíduo substitui parte do combustível que alimenta a chama do forno — que transforma argila e calcário em clínquer (matéria-prima do cimento).

Existe uma movimentação para liberar a incineração no país. Um exemplo está no Projeto de Lei (924/2022), que cria o Programa Nacional de Recuperação Energética de Resíduos (PNRE), instituindo autoprodução e geração distribuída e isenção de IPI para aquisição de máquinas, equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados à recuperação energética de resíduos.

Ao defender o PL, a Associação Brasileira de Recuperação Energética de Resíduos (Abren) diz que ele promove o incentivo à recuperação energética da fração não reciclável dos resíduos sólidos, além de incentivar, financiar e promover a estruturação de processos licitatórios para concessões municipais de manejo de resíduos.

Apreensivos com essa movimentação de defesa da incineração estão os ambientalistas e ativistas do clima, por causa da poluição ambiental e dos riscos que a incineração gera.

Para os críticos, o PL/924/2022 vai contra o Plano Nacional de Mudanças Climáticas, pois as unidades de recuperação energética causam grandes impactos ambientais, principalmente com a liberação de dioxinas e furanos que seriam emitidos sem controle por essas usinas. Além disso, as incineradoras seriam caras e se tornariam uma despesa a mais aos cofres públicos, com obrigação de gerar constantemente resíduos para alimentá-las, em vez de reduzir a geração. No lugar de aprovar incineradoras, seria necessário proibir que os orgânicos sejam enviados aos aterros e obrigar as cidades a fazerem coleta seletiva eficaz.

O setor cimenteiro também tem grande interesse no uso de resíduos. Foi lançado em dezembro do ano passado o Atlas de Recuperação Energética, que mapeia as regiões com maior potencial de aproveitamento do lixo para geração de energia. A ferramenta integra o Sinir + (banco de dados de informações sobre o saneamento) e tem o apoio da indústria do cimento, representada pela Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP).

Segundo a associação, o setor cimenteiro pode contribuir no aumento da vida útil dos aterros sanitários e industriais e com as metas públicas de eliminação de lixões e reduzir as emissões do gás metano, com o coprocessamento e com a utilização do CDRU (Combustível Derivado de Resíduos Urbanos), em substituição ao coque de petróleo, combustível mais utilizado no processo de fabricação de cimento.

O setor de cimento anuncia ter como meta de redução de emissão dos gases de efeito estufa chegar a 2050 utilizando 55% de combustíveis renováveis de fontes como: resíduos urbanos considerados sem reciclabilidade, lodo de esgoto, pneus inservíveis, resíduos agrícolas (como casca de arroz, caroço do açaí, casca do babaçu) e resíduos industriais.

Existe uma mobilização internacional contra a incineração de resíduos. No último dia 25, a Aliança Global contra a Incineração (Gaia) lançou uma carta pública com 175 associações de 35 países denunciando a organizadora de fundos do clima CBI (Climate Bonds Initiative) por considerar a queima de resíduos como combustível alternativo em fornos de cimento como parte de recomendações de financiamento climático.

Segundo a carta, se a CBI mantiver esse entendimento, “milhões de dólares destinados à mitigação do clima sustentarão uma das indústrias mais poluentes do mundo”.

“Mais uma vez, a CBI revelou-se uma marionete da indústria poluidora, em vez de uma voz confiável que pode impulsionar uma rápida transição para uma economia de baixo carbono e resiliente ao clima. Instamos o CBI a levar em consideração nossa contribuição e parar de fornecer credenciais ecológicas para incineração de resíduos em fornos de cimento, que é exatamente o oposto de como deveria ser a ação climática”, diz a diretora do programa climático de GAIA, Mariel Vilella.

O documento lista os seguintes problemas da incineração de resíduos em fornos de cimento:

As fábricas de cimento não têm meios para filtrar metais pesados voláteis ou poluentes orgânicos persistentes. As comunidades que moram próximas sofrem os impactos mais severos da poluição do forno de cimento;

A queima substituiria uma forma de combustível fóssil por outra, deixando de reduzir as emissões de GEE. O tipo de resíduo que os fornos de cimento querem queimar é o plástico, e o plástico é feito de 99% de combustíveis fósseis;

Dar incentivos para queimar resíduos nesses fornos tornará o mundo mais esbanjador. Fornecer títulos climáticos legitimará a dependência da indústria de cimento na queima de resíduos como modelo de negócios, criando perversamente uma demanda consistente por resíduos;

A indústria do cimento tem uma pegada climática alta – 45% de todas as emissões de GEE do setor industrial são provenientes da fabricação de cimento. Se a indústria cimenteira fosse um país, seria o terceiro maior emissor de GEE do mundo.

 

Fonte: UOL

ESG e Greenwashing: como mitigar o risco entre fornecedores e terceiros

Imagine o seguinte cenário: após seu negócio se tornar sustentável, uma notícia é publicada apontando a empresa como responsável por mascarar os reais impactos ambientais da atividade empresarial. Aqui, o estrago reputacional está feito. Mesmo sem culpa, contra fatos não há argumentos e, nesse caso, para recuperar a reputação perdida será necessário um esforço ainda maior do que aquele aplicado para a construção de uma imagem positiva da empresa. E, para evitar que esse cenário nunca saia do campo hipotético e se concretize, é importante entender o que é greenwashing e como evitá-lo.

Com a popularização de práticas de Governança Ambiental, Social e Corporativa (ESG), aumentou o número de empresas que decidiram adequar seus processos para torná-los sustentáveis ambientalmente. Contudo, como toda adesão em massa, foram criados dois grupos distintos: os que acreditam no real benefício da medida e os que esperam simplesmente colherem os frutos do retorno midiático gerado pela suposta adoção.

Para esse segundo grupo foi designado o termo Greenwashing, que pode ser traduzido como “lavagem verde” e faz analogia à “lavagem cerebral” ou brainwashing. Uma empresa comete Greenwashing quando ela omite ou mente sobre os impactos ambientais de seus produtos, utilizando ferramentas de marketing para promover uma imagem ambientalmente sustentável, enquanto, na realidade, não aplica os princípios da prática em sua atividade.

Tal ação provocará um dano de grau duplo: ambiental, em primeiro lugar, e, em segundo, reputacional, considerando que, a partir do momento em que uma empresa é taxada com este termo, os clientes podem suspeitar sobre as demais informações prestadas, especialmente envolvendo a qualidade do produto e a ética.

E, para aquelas empresas que optam por não camuflarem seus dados ambientais e seguem caminhos verdadeiramente sustentáveis, o Greenwashing pode ser um problema reputacional quase irreparável, uma vez que, nesse caso, a irresponsabilidade ambiental pode ocorrer por parte de terceiros relacionados, como, por exemplo, os fornecedores. Porém, existem duas formas de mitigar esse risco: uma política ESG bem estruturada e uma Due Diligence de fornecedores.

Em relação à política ESG, devemos considerar que a falta de prioridades e estratégias no projeto do ESG, aliado a iniciativas desarticuladas e com ausência prática dos fundamentos, podem levar uma empresa ao “falso ESG”. Para que isso não ocorra, o primeiro passo é a elaboração de uma política adequada ao cotidiano específico da empresa, mapeando os riscos, incluindo a interação com terceiros essenciais à atividade empresarial.

Já o Due Diligence nada mais é do que um processo estruturado de estudo, auditoria, investigação e avaliação de riscos e oportunidades em operações empresariais . Sem ele, a estruturação do ESG nas empresas pode ser comprometida. Isso porque organizações ou profissionais autônomos podem se passar por especialistas, quando na realidade não possuem nenhuma experiência na área, ou até mesmo escondem um terrível histórico profissional.

Neste mesmo sentido, realizar diligências em busca de informações sobre os parceiros comerciais é mais do que essencial nesse processo. A busca sobre o histórico de negociações das empresas com quem se deseja realizar negócios e seus respectivos sócios, combinado com a análise processual e midiática de ambos, tem como objetivo especialmente mitigar os riscos legais e reputacionais destas operações.

A efetividade ambiental, social e de governança nas empresas dependerá do nível de comprometimento da alta direção em incluir esses três pilares em sua cultura no dia a dia, estruturando processos, avaliando riscos dos fornecedores, terceiros e todos os outros stakeholders, bem como verificando o nível de comprometimento destes com as boas práticas de ESG.

 

Fonte: Exame

Mais de um ano depois da criação do marco legal de saneamento, gestão do lixo não avançou

O que avançou do marco legal do saneamento no Brasil ?

Numa matéria exibida recentemente pode se ter uma ideia das dificuldades das cidades e cidadãos com o tema relacionado ao lixo e resíduos recicláveis.

Acesse aqui e veja o conteúdo na integra.

Empresa de reciclagem de lixo - VR
Fonte: Jornal da Globo em 11/02/2022. Mais de um ano depois da criação do marco legal de saneamento, gestão do lixo não avançou.”

2025 é o limite para interromper alta de emissões e evitar catástrofe climática, diz painel da ONU

O Planeta precisa cortar 43% das liberações de gases estufa em relação aos níveis de 2019; preservação de florestas e políticas de incentivo à energia renovável são caminhos apontados por cientistas.

Novo relatório do Painel Intergovernamental sobre o Clima (IPCC), das Nações Unidas, divulgado nesta segunda-feira, 4, mostra que 2025 é o limite para que a média anual global das emissões de gases do efeito estufa atinja seu ponto de inflexão e passe a cair. Segundo os cientistas do grupo, medidas como incentivar energias renováveis, novas tecnologias e preservar florestas para retirar da atmosfera o carbono resultante da queima de combustíveis fósseis serão cruciais.

Para se ter uma ideia do tamanho do desafio: entre 2010 e 2019, essa média anual de emissões atingiu seus níveis mais altos da história. Manter a mesma rota coloca a meta de limitar o aumento de temperatura a 1,5ºC fora de alcance. Ficar dentro da meta signfica que nos próximos três anos as emissões precisam passar a cair de forma sustentada e chegar a 2030 com uma redução de 43% em relação a 2019.

Mesmo se a meta considerada for limitar o aumento a 2ºC, 2025 continua sendo a data-limite, com redução de um quarto do volume de emissões ante os patamares de 2019.

Ao mesmo tempo, as emissões de metano também precisam ser reduzidas em cerca de um terço. Ainda que essa receita seja seguida, é quase certo, diz o IPCC, que esse limite de temperatura (1,5ºC) será ultrapassado temporariamente, retornando a nível mais baixo até o final do século. Ou seja: o relatório deixa claro que a hora de investir em mudanças drásticas e sustentáveis é agora.

O documento aponta também, no entanto, que é possível passarmos raspando pelos desafios de manter o planeta mais seguro para a vida humana. Apesar dos recordes de emissões da década passada, o ritmo de crescimento foi mais baixo em relação às décadas anteriores. E, segundo o relatório do IPCC, há evidências crescentes de ações climáticas que já surtem efeitos positivos.

Desde 2010, houve reduções sustentadas de até 85% nos custos de energia solar e eólica energia e baterias, por exemplo. Um número crescente de políticas públicas e legislações mais refinadas melhorou a eficiência energética, reduziu as taxas de desmatamento e acelerou a implantação de energia renovável.

“Uma das coisas que fica clara neste relatório é que limitar o aumento da temperatura a 1,5°C exigirá, ao mesmo tempo, reduzir as emissões e remover o carbono que já está na atmosfera. Isso demonstra a urgência em que estamos”, diz Carolina Genin, diretora de Clima do WRI Brasil.

Para limitar o aquecimento global, diz o documento, será necessário enfrentar uma grande transição no setor de energia, deixando para trás o consumo de combustíveis fósseis, aumento da eletrificação das frotas e desenvolvimento e melhoria da eficiência energética de combustíveis alternativos, como o hidrogênio.

“O relatório ajuda a reforçar que não há cenário de 1,5°C sem a Amazônia. Para o Brasil, desenvolver soluções tecnológicas para retirar CO2 da atmosfera é algo caro e não faria sentido, pois temos as florestas, a melhor alternativa natural e de baixo custo para a captura e armazenamento de carbono”, diz Carolina.

Para Laurence Tubiana, CEO da European Climate Foundation (ECF), o relatório do IPCC deixa claro que a maneira mais rápida de os governos garantirem a segurança energética é cortar custos e investir em energia limpa, deixando de lado os combustíveis fósseis. “Novas infraestruturas de gás, petróleo e carvão não apenas aumentarão os severos custos climáticos que já enfrentamos, mas também alimentarão a temível espiral geopolítica dos combustíveis fósseis, que tantas vezes têm sido associadas à tensão, conflito e volatilidade macroeconômica”, afirma.

Além de apontar a saída com o uso e desenvolvimento de tecnologias energéticas, o relatório do IPCC aponta que o setor financeiro tem um papel importante nesse processo. Embora os fluxos financeiros sejam hoje de três a seis vezes menores do que o necessário para impulsionar esse desenvolvimento, há capital e liquidez suficientes para fechar essas lacunas. Para isso, no entanto, o setor financeiro precisa de demonstrações claras de comprometimento de governos e da comunidade internacional em manter o aumento da temperatura abaixo do 1,5ºC.

Os fluxos financeiros totais anuais para mitigação e adaptação às mudanças climáticas aumentaram em até 60% entre 2013/14 e 2019/20, mas o crescimento médio desacelerou desde 2018. Além disso, esses fluxos são desiguais e se desenvolveram de forma heterogênea entre regiões do globo e os setores econômicos. O cenário é ainda pior quando se constata que os financiamentos públicos e privados de empreendimentos que utilizam combustíveis fósseis ainda são maiores do que para a adaptação e mitigação dos efeitos das mudanças climáticas.

Na última semana, por exemplo, o presidente da COP-26 (Conferência Mundial do Clima), Alok Sharma, se reuniu com representantes de bancos, empresas, Estados e municípios, em São Paulo. Na pauta, o crescimento de uma aliança para a descarbonização dos serviços financeiros, iniciativa lançada mundialmente em 2021 e que tem hoje mais de 450 empresas com ativos de mais de US$ 130 trilhões.

Questionado sobre a expectativa em relação ao Brasil em ano eleitoral, Sharma diz esperar que o País confirme em atos os compromissos assumidos em Glasgow, seja qual for o resultado da disputa à Presidência.

No Brasil, o desmatamento é a principal causa de emissões de gases de efeito estufa. Na COP-26, o País se comprometeu a cortar em 50% suas emissões até 2030, tendo como base o volume de 2005. O objetivo superou o que havia sido apresentado na NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada) poucos dias antes do início da cúpula. Ainda assim, a posição frustrou expectativas por ter só igualado a meta assumida em 2015. Na gestão Jair Bolsonaro, o Brasil bate recordes sucessivos de desmatamento.

“Já estamos vendo os impactos climáticos generalizados causados por uma elevação de apenas 1,1°C na temperatura média do planeta acima dos níveis pré-industriais, inclusive no Brasil, onde recentemente centenas de pessoas perderam suas vidas por causa de eventos extremos”, afirma Mauricio Voivodic, diretor executivo do WWF-Brasil.

Em Petrópolis (RJ), por exemplo, um temporal recorde matou 234 pessoas de uma vez em fevereiro, a maior tragédia do tipo na cidade. Especialistas afirmam que eventos climáticos extremos serão cada vez mais frequentes com o avanço do aquecimento global.

 

Fonte: Estadão 

Investimentos ESG: lucratividade e responsabilidade no presente

Uma empresa socialmente responsável é aquela que age de acordo com as melhores práticas ESG (ambientais, sociais e de governança) em toda a sua cadeia de produção. Ela assume a responsabilidade social e ambiental pelo seu entorno, pelas famílias representadas por seus colaboradores e repensa com frequência seus processos para que eles interfiram cada vez menos no ecossistema do planeta. Mais do que isso, busca reverter os impactos causados à sociedade e ao meio ambiente provocados pela mentalidade de exploração e faz isso enquanto gera lucro para seus acionistas e investidores.

Você conhece alguma empresa assim? Se ficou difícil identificar uma que reúna todas essas características é porque, de fato, ela ainda não existe. Esse é um modelo, uma aspiração, um ideal que de quinze anos para cá – e intensificado durante a pandemia – vem provocando marcas de capital aberto do mundo inteiro a se transformarem de dentro para fora. Não apenas para fortalecer sua reputação, como por uma questão de sobrevivência, para se tornarem mais sustentáveis e competitivas no mundo dos investimentos.

Cada vez mais sustentabilidade e competitividade estão andando de mãos dadas e essa é uma tendência que veio para ficar. Números divulgados pelo relatório “ESG de A a Z – tudo o que você precisa saber sobre o tema”, da XP Investimentos, mostram que globalmente mais de US$ 35,3 trilhões em investimentos são administrados por fundos institucionais com estratégias sustentáveis, o que representa 36% do total de ativos sob gestão AuM (do inglês Asset Under Management) no mundo. Só na Europa são US$ 14 trilhões e nos Estados Unidos representa 25% de todos os investimentos AuM. “É uma questão de combinar lucro com propósito. A pandemia tornou evidente o fato de que investimentos ESG não vêm com um custo, pelo contrário, colocam os investimentos tradicionais à prova e, em alguns casos, aumentam os retornos, ao mesmo tempo em que ajudam a moldar um futuro melhor, pensando sobre o papel dos investidores na geração de resultados no mundo real”, afirma a publicação.

De fato, cada vez mais investidores estão interessados no tema e esperam alocar seus recursos em empresas com práticas ESG consistentes. Para se ter ideia, a pesquisa Global Consumer Pulse, divulgada em reportagem da VC S/A, mostra que 83% dos pesquisados afirmam comprar de marcas que se posicionam “de acordo com as pautas e propósitos que se alinham com seus valores pessoais”. E isso é tão importante que, ainda segundo a publicação, marcas que se mantêm neutras diante das grandes pautas da sociedade são simplesmente dispensadas.

E vai além: pesquisa da Nielsen divulgada em 2017 com consumidores em todo mundo apontou que 81% deles acreditam fortemente que as empresas devem ajudar a melhorar o meio ambiente e 60% dos consumidores estão muito ou extremamente preocupados com a poluição do ar, da água, uso de embalagens, resíduos de alimentos e outros. Dessa forma, cada vez mais a frase “Para ganhar um bilhão de dólares, encontre a solução para o problema de um bilhão de pessoas”, dita por Peter Diamandis, fundador da Singularity e um dos maiores empreendedores e investidores do mundo, faz sentido.

ESG não é modismo e veio para ficar. Assim, as empresas que mais rapidamente se adaptarem às demandas crescentes por práticas comprovadamente sustentáveis ganharão mercado e trarão mais rentabilidade e propósito para seus investidores. “As empresas do passado eram valorizadas apenas pela capacidade de gerar lucro, mas isso acabou. Apenas aqueles que assumirem responsabilidade pelos que estão ao seu redor e buscarem entregar valor para todos que fazem parte do seu ecossistema estarão aptos a competir de verdade e a entregar resultados consistentes em longo prazo de forma responsável”, afirma Guilherme Bechimol, sócio-fundador da XP Investimentos.

Investir com propósito e lucratividade é para hoje

Se você deseja investir em um ativo ESG que apresenta alta rentabilidade com responsabilidade social, nossa recomendação é Trend ESG Global FI MM. O produto segue estratégia indexada e investe em três fundos internacionais listados em bolsa (ETFs), geridos pela BlackRock, focados no investimento best in class, ou seja, a seleção das empresas com as melhores práticas ESG de cada setor.

Para saber mais sobre o Trend ESG Global FI MM e nossas recomendações em produtos ESG, acesse o site.

Fonte: G1

O que a sigla ESG quer dizer sobre uma empresa?

Se engana quem pensa que é obrigatório escolher entre construir um mundo mais sustentável ou ter bons resultados financeiros em uma empresa. Pelo contrário: cuidar do meio ambiente, ter responsabilidade social e adotar melhores práticas de governança são, na verdade, fatores que ajudam no balanço das empresas – e esse é um dos motivos para que termos como ESG tenham se tornado mais populares.

Um estudo realizado pela consultoria BCG, por exemplo, mostrou que empresas que adotam melhores práticas ambientais, sociais e de governança veem diversos impactos positivos, como maior lucratividade e até uma melhora em seu valor de mercado ao longo do tempo.

Em outras palavras, negócios que se comprometem com as melhores práticas de gestão acabam tendo uma operação mais sustentável em diversos aspectos, incluindo o econômico e na gestão de riscos – e, como consequência, geram resultados melhores ao longo do tempo

Afinal, o que é ESG?

ESG é a sigla em inglês para “environmental, social and governance” (ambiental, social e governança, em português), geralmente usada para medir as práticas ambientais, sociais e de governança de uma empresa.

ESG pode ser usado para dizer quanto um negócio busca formas de minimizar seus impactos no meio ambiente, construir um mundo mais justo e responsável para as pessoas em seu entorno e manter os melhores processos de administração.

Além disso, ESG também pode ser usado para investimentos com critérios de sustentabilidade. Em vez de analisar apenas índices financeiros, por exemplo, investidores também observam fatores ambientais, sociais e de governança de uma companhia.

Qual a origem da sigla ESG?

A sigla ESG surgiu pela primeira vez em um relatório de 2005 intitulado “Who Cares Wins” (“Ganha quem se importa”, em tradução livre), resultado de uma iniciativa liderada pela Organização das Nações Unidas.

Na época, 20 instituições financeiras de 9 países diferentes – incluindo do Brasil – se reuniram para desenvolver diretrizes e recomendações sobre como incluir questões ambientais, sociais e de governança na gestão de ativos, serviços de corretagem de títulos e pesquisas relacionadas ao tema.

A conclusão do relatório foi que a incorporação desses fatores no mercado financeiro gerava mercados mais sustentáveis e melhores resultados para a sociedade.

E o que significa cada letra dessa sigla?

A sigla ESG une três fatores que mostram quanto uma empresa está comprometida em ter uma operação mais sustentável em termos ambientais, sociais e de governança.

Cada letra tem um significado:

E (environmental, em inglês, ou ambiental, em português)

A letra E da sigla se refere às práticas de uma empresa em relação à conservação do meio-ambiente e sua atuação sobre temas como:

  • Aquecimento global e emissão de carbono;
  • Poluição do ar e da água;
  • Biodiversidade;
  • Desmatamento;
  • Eficiência energética;
  • Gestão de resíduos;
  • Escassez de água.

S (social, em inglês e português)

Já a letra S diz respeito à relação de uma empresa com as pessoas que fazem parte do seu universo. Por exemplo:

  • Satisfação dos clientes;
  • Proteção de dados e privacidade;
  • Diversidade da equipe;
  • Engajamento dos funcionários;
  • Relacionamento com a comunidade;
  • Respeito aos direitos humanos e às leis trabalhistas.

G (governance, em inglês, ou governança, em português)

Por fim, a letra G se refere à administração de uma empresa. Por exemplo:

  • Composição do Conselho;
  • Estrutura do comitê de auditoria;
  • Conduta corporativa;
  • Remuneração dos executivos;
  • Relação com entidades do governo e políticos;
  • Existência de um canal de denúncias.

Fundos ESG

Não é de hoje que grandes investidores vêm olhando com cautela as práticas sociais, ambientais e de governança das empresas antes de depositarem dois pontos muito importantes nelas: a confiança e o capital.

Para os investidores, as práticas ESG tomaram ainda mais relevância com a pandemia da COVID-19: 77% dos investidores entrevistados aumentaram seus investimentos em ESG de forma significativa, segundo pesquisa global com investidores institucionais realizada pela MSCI.

Hoje no mercado é possível identificar diferentes formas de se investir em ESG: seja por meio de Fundos de Fundos (FoF) – que direcionam parte de seu capital a ações sustentáveis, ou por meio de investimentos em renda fixa. Segundo a B3, no final do ano de 2020 havia 14 debêntures e seis Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRAs) – chegando a cifra de R$ 6 bilhões em investimentos ESG.

Assim como em outras categorias de investimentos, no mundo ESG também existe a possibilidade de se emitir títulos de dívida, os chamados Títulos Temáticos ESG, cujo objetivo é atrair capital para projetos que tenham um real e positivo impacto socioambiental.  Esses títulos são dividos de acordo com seus propósitos:

  • Títulos Verdes (Green Bonds): investimentos relacionados a energia renovável; prevenção e controle de poluição; conservação da biodiversidade etc.;
  • Títulos Sociais (Social Bonds): direcionado a projetos de geração de empregos, segurança alimentar, infraestrutura básica etc.;
  • Títulos de Sustentabilidade (Sustainability Bonds): investimento em projetos que combinam ações “green” e “social” – socioambiental.

Além disso, empresas que têm como objetivo alcançar metas ESG podem emitir Títulos Vinculados à Sustentabilidade (Sustainability-Linked-Bonds), desde que tenha essas métricas de sucesso (KPIs) bem definidas. Exemplo:

  • Atingir 100% de energia elétrica renovável até 2025;
  • Reduzir em 30% as emissões de Gases do efeito estufa (GEE) até 2040.

O que é Greenwashing?

“A empresa que menos polui em seu setor”, “empresa que emite menos carbono no mundo”… esses são exemplos de frases que devemos ficar atentos: exagerar na hora de divulgar os resultados e as práticas vinculadas a ESG pode configurar greenwashing (lavando verde, em tradução livre).

Em outras palavras, greenwashing é a prática de empresas que divulgam dados e informações falsas, ou suspeitas, sobre suas ações sustentáveis – em sua maioria, com a intenção de atrair os olhares dos investidores, já que essa é uma grande preocupação de quem investe.

Dada essa falta de transparência que vem acontecendo, em maio deste ano foi criado na Europa o SFDR (Sustainable Finance Disclosure Regulation) – Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis em tradução livre.

Basicamente, o SFDR regulamenta a transparência na divulgação de dados sobre as práticas de ESG dentro das empresas e sobre seus investimentos. O objetivo é impedir que notícias falsas, ou exageradas, sejam divulgadas ao mercado por meio de seus sites, material impresso ou até mesmo em seus relatórios periódicos. Além disso, os gestores desses fundos devem detalhar quais são as métricas utilizadas para mensurar o quão sustentável são tais práticas.

Fonte: Nubank 

Logística Reversa: empresas correm para se adequar sob risco de multa a prisão de executivos

Empresas brasileiras colocam em pé os planos para reintroduzir materiais pós-consumo em novos ciclos produtivos. A iniciativa faz parte da narrativa ESG que, se for ignorada, pode render multas e até prisão de empresários e executivos.

Hoje já não é novidade ir a supermercados, farmácias, lojas de eletroeletrônicos e ali esbarrar com urnas para descarte de recicláveis. Vidros, plásticos, papelões… Essa nova preocupação dos varejistas está sendo impulsionada pelas indústrias que, por sua vez, estão se movimentando por força de lei. A Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS) tornou o setor industrial o responsável por fazer a logística reversa. Em outras palavras, precisam coletar embalagens usadas após o consumo em volumes estabelecidos em acordos setoriais por tipo de matéria-prima e reinseri-las em novos ciclos produtivos. Quem não estiver em conformidade, além de prejuízos reputacionais, responde civil, criminal e administrativamente. “O mecanismo é eficiente porque permite que a economia circular funcione”, disse Jessica Doumit, relações institucionais e jurídico da Eureciclo (a empresa grafa tudo em minúsculas), certificadora de logística reversa. Agora, quem enxergar na agenda uma oportunidade de negócio pode entrar em um mercado que movimentou globalmente US$ 563,2 bilhões em 2021.

A estimativa faz parte do estudo Mercado de Logística Reversa: Tendências Globais da Indústria, Participação, Tamanho, Crescimento, Oportunidade e Previsão 2022-2027, realizado pela ResearchAndMarkets.com. Segundo o documento, a expectativa é que o setor cresça a US$ 812,6 bilhões até 2027. No texto, a explicação: “A rápida industrialização e o desenvolvimento das indústrias manufatureiras em economias emergentes estão contribuindo para o crescimento do mercado.”

No Brasil, a evolução teve uma forcinha do poder de punição do Estado que estabeleceu na PNRS que a empresa que não realizar a logística reversa pode ser multada em até R$ 50 mil; ter os sócios detidos por até três anos; e ser obrigada a indenizar a coletividade por danos materiais e morais. Entra nessa conta também a força reputacional que o assunto tem junto aos consumidores e investidores. A movimentação das empresas para rumo à conformidade está intensa.

Economia Circular

Em uma das iniciativas mais ousadas, a Klabin e o Grupo Heineken estão criando o primeiro território 100% circular em embalagens do País. Telêmaco Borba, cidade de 80 mil habitantes no interior do Paraná, que reciclava apenas 11,7% do lixo, foi escolhida como piloto para o projeto Território 100% Circular em Embalagens. Outras empresas como o Hub Incríveis, rede que tem o objetivo de reinventar o uso de embalagens, e o ViraSer, programa de logística reversa, completam o ecossistema. Para a gerente de Sustentabilidade do Grupo Heineken, Ornella Vilardo, a junção de diversos atores é essencial para a construção da infraestrutura da economia circular. “Somente juntos será possível garantir os impactos positivos que almejamos de ponta a ponta na cadeia de embalagens.”

Com a iniciativa, as empresas querem solucionar o grave problema que são os baixos índices de reciclagem de papel e de vidro. No Brasil, apenas 37% do papel produzido vai para a reciclagem. Para o vidro, ainda que seja 100% reciclável, o problema é o peso, o preço e o custo. Catadores recebem R$ 0,20 por quilo coletado. O pagamento pelo quilo das latinhas de alumínio chega a R$ 10. Já para a indústria, como a base do produto é areia, é mais barato recorrer ao material virgem, que hoje representa 60% ou mais na composição de uma nova embalagem, do que ao vidro reciclado. A taxa de circularidade do material não chega a 50%.

Outro material que enfrenta obstáculos é o plástico. Tido como grande vilão do meio ambiente pela demora em sua decomposição — estimada em 400 a 500 anos —, a matéria-prima usada (Rplástico) está em falta. Para Cesar Dib, presidente da Lindoya Verão, a demanda que hoje vem de diversas indústrias, de materiais de construção à moda, explica a escassez. “Há uma corrida acelerada das empresas para aumentar o percentual de reciclados nos seus produtos e o sistema de coleta e reciclagem do Brasil não consegue atender a todos”, afirmou Dib. A consequência é o aumento do preço. A resina reciclada chegou a custar 20% a mais do que a virgem durante a pandemia. Com cerca de 20% de Rplástico na composição das suas embalagens, a Lindoya Verão quer aumentar a participação para próximo de 100% até 2025. A empresa prepara para muito em breve o lançamento de águas em latinhas de alumínio.

Diante do cenário colocado pelo CEO da Lindoya Verão, dá para imaginar o desafio de empresas que trabalham com embalagens de diversos materiais. Caso da Coca-Cola que hoje usa ao menos seis tipos: latas de alumínio, plásticos retornável e reciclado, tetrapack, vidro e papelão. Tendo a economia circular como prioridade em sua estratégia ESG, a companhia se aliou a 17 outras no Reciclar Brasil. A iniciativa apoia 22 cooperativas, 135 recicladoras e coleta de 106 mil a 120 mil toneladas de recicláveis por ano. Mas com quatro grandes metas atreladas a bônus dos executivos — entre elas, coletar e reciclar 100% das embalagens que envia ao mercado, a Coca-Cola precisou criar ações proprietárias.

Assim surgiram o SustentaPET e o Recicla Solar, focado na coleta de garrafas PET. A estratégia, disse Rodrigo Brito, gerente de Sustentabilidade do Cone Sul para a América Latina, foi necessária devido à proporcionalidade do tipo de embalagem enviada ao consumo. “Não adianta vender milhões de garrafas, mas coletar mais latas de alumínio.” O Recicla Solar, lançado na Bahia, no Ceará e em Pernambuco em 2021, coletou e reciclou 1, 2 mil toneladas de PET em seus primeiros seis meses de operação e tem a meta de coletar 7 mil toneladas neste ano. O SustentaPET, que acontece em São Paulo, na região Sul e em Minas Gerais, coletou e reciclou 28 mil toneladas apenas em 2021, mais do que o dobro de 2020 (12 mil).

Mesmo com tantas iniciativas, das 80 milhões tons de resíduos coletados em 2020, somente 3% foram recicladas. Mas o índice depende do material. Em latas, a reciclagem ultrapassa 97%. Para Estevão Braga, gerente de Sustentabilidade da Ball, o sucesso se deve ao fato de o produto ser 100% reciclável e de remunerar bem o catador. “A lata é de longe o material que mais distribui renda na cadeia. É o ouro da reciclagem”. Já o cartonado “tem reciclagem mais complexa, pois mistura cola, papelão e alumínio”. Isso não impediu o aumento do seu índice de 31% em 2019 para 42% em 2020. Pela dor ou por responsabilidade, o Brasil avança na logística reversa e o planeta agradece.

Fonte: Isto é 

Plásticos: práticos mas vilões da natureza

Os materiais plásticos estão presentes em todas as casas. Muito comuns nas embalagens de alimentos, bebidas, higiene pessoal entre outros. Na média uma família com 4 pessoas gera 100 litros de material reciclável por semana. 50% são plásticos. 

Infelizmente é um vilão para o meio ambiente. Na época que foi criado, não havia preocupação ambiental, não estava em foco, e a produção desenfreada do material levou à situação na qual o planeta se encontra hoje. Milhões de toneladas são jogadas em lixões, aterros sanitários, natureza e oceanos todos os dias. 

Sendo assim, a reciclagem é um dos principais caminhos para minimizar os impactos ao meio ambiente, reaproveitar os materiais, gerar novos postos de trabalho e movimentar a economia circular.

Consegue-se dar um destino para os resíduos que seria acumulado no meio ambiente, reinserindo o mesmo na produção. Além disso, ela evita o uso do petróleo, que é uma matéria-prima não renovável e poluente. Dessa forma, ao reciclar e difundir ideias de sustentabilidade muitas empresas estão trabalhando para melhorar esse cenário, por exemplo, com projetos para coletar embalagens usadas e enviar para cooperativas, onde elas são segregadas e enviadas para a indústria recicladora.

Assim, observa-se que reciclagem e sustentabilidade estão intimamente ligadas e, portanto, quanto mais o mercado de coleta seletiva e reciclagem crescerem, mais haverá uma preocupação com o nosso planeta. Invista nessa causa e consulte a Valora para bater suas metas ESG e ajudar nosso meio ambiente.