O lixo e a reciclagem: fonte de geração de emprego, renda e preservação ambiental

Das 82,5 milhões de toneladas de lixo produzidas ao ano no país, 96,1 milhões foram coletadas e só 1,28% foi recicladas.

Em todo o planeta, são produzidos cerca de 2 bilhões de toneladas de lixo, com um crescimento que tende ao infinito. Para se ter uma ideia, nos últimos 30 anos, este volume aumentou três vezes mais que o populacional, o que gera um alto custo social, ambiental e financeiro. A maior parte deste lixo é descartada em aterros, o que resulta no desperdício sem volta de 1 metro quadrado de terreno para cada 10 toneladas de lixo aterrado.

No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), Lei 12305/2010, após 20 anos de tramitação estabeleceu metas como o fim da disposição de resíduos em lixões até o ano de 2014, postergado e escalonado pela Lei do Saneamento Básico com fim do prazo em 2021 para capitais e regiões metropolitanas e 2024 para cidades com população inferior a 50 mil habitantes.

Da geração de 82,5 milhões de toneladas ao ano no país, apenas 96,1 milhões foram coletadas (e apenas 1,28% foi reciclado). Assim, 6,4 milhões de resíduos sequer foram retirados dos pontos de geração. O país também é o quarto maior produtor de lixo plástico no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia, o que corresponde a 17% do volume total de resíduos.

Em 2020, segundo a Associação Brasileira das Empresas de Limpeza Pública (Abrelpe), este volume descartado aumentou 15% em relação ao ano anterior: com um total de 13,3 milhões de toneladas. A WWF Brasil publicou que em 2019, das 11,3 milhões de toneladas de plástico geradas, apenas 145 mil foram recicladas em território nacional, 1,3%, muito abaixo da média global de 9%.

Com o Environmental, Social, Governance (ESG) em alta no mundo dos negócios, as companhias preocupam-se com a gestão de resíduos e economia circular, por influírem na imagem das empresas e consequentemente no valor das suas ações. Assim, atender à PNRS é um dos principais requisitos para cuidar da reputação e fazer as ações subirem.

A fim de facilitar a gestão dos resíduos sólidos com o fim precípuo de gerar cifras com o negócio do lixo, o governo federal instituiu como meta, a ampliação da taxa de reciclagem de cerca de 2% para 48% em 18 anos dentro do Plano Nacional de Resíduos Sólidos (Planares), elaborado desde 2019, ao prever reciclagem, compostagem, biodigestão e recuperação energética e incentivo a incineração de parte do lixo não reciclável (o que vem a contribuir com a liberação de gases de efeito estufa e colaborar com o aumento do aquecimento global).

Além disso, prevê a recuperação de 20% de recicláveis secos e 13,5% da fração orgânica o que obriga os municípios a coletar separadamente o resíduo seco e o orgânico (para realizar compostagem ou digestão anaeróbica, obter eletricidade dos mais de 60% do biogás gerado nos aterros sanitários e substrato fertilizante em escala piloto ou comercial. A meta é reciclar mais de 100 mil toneladas de resíduos sólidos urbanos (RSU) por dia sem, contudo, integrar a este sistema o elemento que configura a sua real eficiência, o catador.

Entretanto foi elaborada como estratégia financeira, organizacional um certificado de reciclagem, com a transferência do custeio da gestão de resíduos municipais aos cidadãos como se já não fosse pago o IPTU.

Na semana comemorativa do Dia Internacional do Meio Ambiente, o jornal Extra publicou uma interessante matéria sobre o desenvolvimento desta temática no Estado do Rio de Janeiro onde está posto o prejuízo que a falta de reciclagem traz ao “enterrar”, literalmente, mais de R$ 1 bilhão por ano em material reciclável.

Segundo a matéria, os dados são do Mapeamento dos Fluxos de Recicláveis elaborado pela Firjan. Segundo o estudo, são 7,98 milhões de toneladas de resíduos sólidos anuais descartados, despejados em 20 aterros sanitários licenciados e cinco lixões a céu aberto existentes no estado. Só os lixões recebem cerca de 319 mil toneladas de resíduos sólidos que poderiam ser reciclados, quantidade hoje oito vezes maior do que a coleta seletiva arrecada. Este recurso, ao ser reaproveitado por meio da reciclagem, poderia somar-se às 39,9 mil toneladas efetivamente recicladas (cerca de 0,5% do total).

Inclusive, o Instituto Estadual do Ambiente (Inea) aponta que tudo o que é recebido pelos cinco lixões do Estado do Rio não passa por quase nenhum controle e proteção do ambiente do entorno e quatro deles estão situados próximos à divisa com Minas Gerais e Espírito Santo: Miracema, Porciúncula, Itaperuna e Bom Jesus do Itabapoana.

Além disto, a cidade de Teresópolis é a única fora do Noroeste Fluminense que não dispõe de uma gestão de seus resíduos, mais de 40 mil toneladas anuais, ao depositar matéria orgânica no denominado lixão do Fischer, juntamente com material reciclável, hospitalar e todo tipo de restos e de sucata, o que representa risco potencial de contaminação do solo, presença de animais invasores, vetores de doenças, e perigo para eventuais pessoas residentes ou trabalhadores locais, uma vez que a sua remediação pode levar anos devido ao severo impacto ambiental e a falta de recursos municipais direcionados à criação de aterros sanitários. Trata-se de obras caras que exigem gestão, apesar de configurarem um mal menor, como aconteceu em Duque de Caxias (Jardim Gramacho) e São Gonçalo (Itaoca).

Trabalhadores expostos que são à insalubridade e demais riscos como incêndios causados pelo gás metano decorrente da fermentação orgânica, além de não possuírem garantias trabalhistas conferidas às outras categorias profissionais. À exemplo desta situação, no lixão do Fischer, à beira da BR-116, trabalham mais de 100 pessoas todos os dias, em meio a centenas de urubus e cenas de horror, como o encontro de um bebê natimorto, em fevereiro deste ano, e a constante circulação de caminhões que se revezam ao depositarem o lixo, ou comprarem recicláveis dos trabalhadores de 7h a 17h, de segunda a sábado.

Há catadores que apesar das condições insalubres e o risco inerente à atividade, afirmam levantar por semana com a venda de recicláveis, de R$ 500,00 a mais de R$ 1500,00 nos melhores momentos, porém com a pandemia e o consequente crescimento do desemprego, menos recicláveis passaram a chegar no lixão, devido ao maior número de pessoas a catá-los pelas ruas. Além disto, afirmam que se houvesse a separação prévia dos resíduos e uma gestão adequada, seria possível reduzir o desperdício de materiais que devido à mistura, tornam-se inadequados à reciclagem e comercialização.

Os catadores submetem-se à insalubridade e riscos porque além da necessidade e falta de empregos, encontram objetos de valor agregado, como celulares, relógios, câmeras, brinquedos, videogames e mangás que reaproveitam ou vendem para colecionadores, porque “o rico não doa, prefere jogar fora”.

Outros exemplos mostram catadoras ainda jovens como Stefane Gomes da Silva, de 23 anos, há dois anos no lixão do Fischer que ganha, em média, R$ 260,00/dia, desde que perdeu o emprego de manicure e cabeleireira. Outra catadora é Vera Lúcia de Souza Costa que trabalha há seis anos com garrafa pet e latinha, e, às vezes, papelão, para poder comprar seus remédios para dor, apesar de sua condição precária de saúde, um problema de coluna com dez hérnias de disco.

O procurador do município conta que em 2019, foi realizada a cotação para o transbordo para um aterro sanitário, que custaria cerca de R$ 840 mil por mês, o que atualmente, com o aumento do diesel, deve estar bem maior. Por isso, o município busca no estado algum apoio para financiar essa operação, que é muito custosa para o nosso orçamento.

Em estudo realizado pela Firjan afirmou-se que a coleta seletiva de Nova Iguaçu, Nilópolis, Paracambi, Seropédica, Queimados, Japeri, Itaguaí e Mangaratiba somente abarca 0,05% do volume gerado nessas cidades. Nos municípios de Duque de Caxias, Belford Roxo, São João de Meriti, Magé e Guapimirim os resíduos aterrados que poderiam ser reciclados todo ano, somam mais de R$ 100 milhões.

Assim, os lixões recebem mais da metade dos resíduos gerados no Noroeste Fluminense, enquanto o Leste Fluminense despacha quase 500 mil toneladas de recicláveis para aterro. Já a cidade do Rio de Janeiro dispõe de gestão de resíduos mais estruturada, com a coleta direcionada para o aterro CTR Rio, em Seropédica, porém é bastante possível que os recursos possam vir a ser melhor aproveitados e haver uma maior geração de empregos a partir de um refinamento do processo.

Dos 92 municípios do estado do Rio, somente Búzios, Araruama, Comendador Levy Gasparian, Engenheiro Paulo de Frontin e Rio das Flores não forneceram dados sobre a gestão de resíduos referente a seis anos consecutivos do Sistema Nacional de Informações sobre Saneamento (SNIS), de 2015 até 2020. A prefeitura de Búzios argumenta que a falha se deve ao período de extrema instabilidade política, a qual prejudicou sobremaneira a continuidade da gestão ambiental municipal anterior.

Deste modo é sabido que a melhor solução para o problema é a separação na fonte geradora de orgânicos e coleta seletiva de recicláveis seguida da implantação de usinas de compostagem e de reciclagem completa, incluindo a separação e reciclagem de resíduos da construção civil com a implementação das etapas de fluxo adequadas com base em estudos gravimétricos e organização e treinamento da mão de obra de forma a contribuir.

O plano almejado com a efetivação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), busca o reconhecimento do resíduo sólido reutilizável e reciclável como um bem econômico e de valor social, gerador de trabalho e renda e promotor de cidadania para os trabalhadores que dele passam a extrair seu sustento e sua renda. Assim, ao menos na legislação, os catadores assumiriam papel central enquanto prioridade das políticas públicas no setor de reciclagem. Agora é preciso garantir que, por meio do acompanhamento e da participação da sociedade civil, essa legislação seja de fato cumprida.

Além disso, segundo a Firjan, a reutilização de recicláveis perdidos na cadeia produtiva industrial seria capaz de gerar R$ 4,56 bilhões de renda no estado do Rio — incluído aí o bilhão anual “enterrado” segundo a reportagem do jornal Extra. Soma-se à esta cifra, o recebimento de um repasse maior de ICMS, devido ao mecanismo tributário do governo do estado, o ICMS Ecológico, a partir da chegada de investimentos na destinação adequada dos resíduos.

Assim, a destinação correta dos resíduos sólidos gerados nos centros urbanos, contribuirá para agregar esforços aos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável da ONU até 2030, com a significativa geração de emprego e renda, com a agregação de valor econômico oriundo da atividade e com a conservação e preservação das áreas naturais e ecossistemas que compõem o estado como rios mares, praias e florestas, ao evitar a chegada dos resíduos aos oceanos a partir das áreas verdes conectadas aos rios.

 

Fonte: Brasil de fato

MAIS DE 70% DOS BRASILEIROS NÃO SEPARAM O LIXO, REVELA PESQUISA

Mais de 70% dos brasileiros ainda não separam o lixo em comum e reciclável, é o que revela uma pesquisa do Ibope, em parceria com a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) e o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).

Ainda de acordo com os dados divulgados no ano passado, 77% dos brasileiros sabem que boa parte dos plásticos, por exemplo, é lixo reciclável, mas a grande maioria ainda insiste em descartar esses resíduos de forma inadequada.

E mesmo que 73% das cidades do país já tenham iniciativas de coleta seletiva em sua prestação de serviços, uma pequena parcela do lixo reciclável é destinado de forma correta para a reciclagem nesses municípios.

“Muito dos materiais recicláveis são descartados junto com os que não são recicláveis e com isso há uma contaminação dos materiais bons”, explica a diretoria da Abrelpe para o portal Um Só Planeta.

Mas nem só de más notícias vive a reciclagem do lixo no Brasil!

No ano passado, segundo a Associação Brasileira dos Fabricantes de Latas de Alumínio (Abralatas), batemos o nosso próprio recorde com o índice de reciclagem de latinhas chegando próximo dos 99%.

De um total de 33,4 bilhões de latinhas comercializadas no mercado brasileiro, 33 bilhões cumpriram o caminho da economia circular e foram recicladas, retornando às prateleiras.

Além disso, o Brasil já conta com 3,4 mil pontos de coleta de lixo eletrônico espalhados por todas as regiões do país, informa a Associação Brasileira de Reciclagem de Eletroeletrônicos e Eletrodomésticos (Abree).

Ainda segundo a Abree, 21 centrais de logística reversa foram instaladas nas principais capitais e atendem cerca de 1,5 mil municípios. Mais de um milhão de quilos de equipamentos foram coletados em 2021.

NOVA LEI DA RECICLAGEM NO BRASIL

O Senado Federal aprovou em novembro de 2021 a proposta da Câmara dos Deputados que cria incentivos à indústria da reciclagem e a criação dos fundos de Apoio para Ações voltadas à Reciclagem (Favorecicle) e de Investimentos para Projetos de Reciclagem (ProRecicle).

O PL 6.545/2019 tem três eixos: incentivos fiscais à reciclagem do lixo a serem concedidos pela União a projetos da cadeia produtiva do setor, criação de um fundo para apoio à atividade e emissão de títulos para financiar projetos.

Para a Diretora de Relações Institucionais da Confederação Nacional das Indústrias, Mônica Messenberg, o Brasil pode se transformar nos próximos anos em uma potência mundial em economia circular.

Segundo a executiva, são muitas as nossas vantagens em relação aos demais países: abundância de recursos naturais e maior biodiversidade do mundo, indústria diversificada e amplo mercado consumidor, além de um corpo científico bastante qualificado.

Apostando nisso, a CNI incluiu a economia circular como um dos pilares da estratégia de baixo carbono do setor industrial brasileiro. Os outros pilares são a conservação florestal, a transição energética e a precificação de carbono.

“Para transformar as vantagens do país numa alavanca para o desenvolvimento sustentável, é preciso políticas públicas e um sistema de governança que impulsionem a economia circular. Tudo isso vinculado à estratégia de neutralidade de carbono”, opina Mônica.

Fonte: Recicla Sampa

Pesquisa da Abrelpe revela que 70% dos resíduos do mar brasileiro são plástico

Dificuldade na reciclagem e descarte incorreto agravam as condições dos oceanos.

Pesquisa da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe) mostra que o plástico é responsável por 70% dos resíduos encontrados nos mares brasileiros. Segundo o estudo, realizado durante 2020, o isopor é o segundo resíduo mais presente, com participação de 10%. Os dados são do projeto Lixo Fora D’Água, da Abrelpe, iniciado em 2018.

De acordo com o levantamento, os resíduos coletados nas orlas das praias têm cerca de 10% de sua origem in loco, ou seja, nas próprias praias e o restante (90%), são provenientes de outras áreas urbanas. “Constatamos que os resíduos no mar são predominantemente itens de consumo domiciliar. E os fragmentos de plástico e isopor deteriorados, por exemplo, indicam origem distante da praia “, destaca o diretor presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho.

Segundo a pesquisa, em 2020 houve uma queda drástica da presença no mar de itens como bitucas de cigarro, canudos e copos descartáveis. Em contrapartida, itens como tampinhas e lacres de garrafas plásticas continuaram a ser encontrados com frequência. Outros materiais também chamaram atenção, como sacolas plásticas de comércios e supermercados, hastes flexíveis, garrafas PETs, isopor, calçados e até assentos de vaso sanitário.

O Brasil produz cerca de 100 mil toneladas de copos plásticos por ano. O plástico tem potencial para reciclagem, mas o seu mercado ainda é muito precário. Cada quilo do material pode ser vendido por até R$ 0,20 – são necessários mais de 400 copos de plástico descartáveis para somar apenas um quilo. Além disso, de todo o plástico que já foi produzido em todo o mundo, desde sua invenção ainda em 1950, apenas 9% foi realmente reciclado para entrar novamente no ciclo de produção.

Somado a isto, existem os materiais descartados de forma errada e são acumulados nos aterros sanitários. Um copo plástico descartável pode levar entre 250 a 400 anos para se decompor – e mesmo depois de todo esse tempo ainda pode continuar por aí, pois se transforma em micro plástico e continua na natureza. Isso porque o copo plástico descartável é produzido a partir do poliestireno, um componente derivado do petróleo, que é uma matéria-prima não renovável.

Estimativas de 2018 da Abrelpe mostram que são consumidos, no Brasil cerca de 720 milhões de copos descartáveis por dia, o que corresponde a 1,5 mil toneladas de resíduos diários. Boa parte do plástico, já que a reciclagem é falha, acaba sendo descartada nos oceanos. De acordo com dados da ONU, o plástico representa 80% do lixo nos mares, o que pode causar a morte de diversas espécies marítimas, que confundem os resíduos plásticos com alimentos e acabam ingerindo-os. Pesquisas apontam que em 2050 haverá mais plástico do que peixes nos oceanos.

Fonte: Agência Brasil/Dom Total

 

Por que Plástico?

De olho nas empresas que mais falam do que fazem, as chamadas greenwashing, sobre ações de sustentabilidade e reciclagem, recentemente e BBC Brasil lançou uma série de documentários “Why Plastic”, ou “Por que Plástico”, com três episódios que abordam diversos problemas causados pelo excesso de plástico que usamos atualmente em nosso dia a dia.

Além de revelar o surpreendente tamanho da poluição ambiental causada pelo plástico, a série analisa também possíveis problemas de saúde trazidos pelo uso intenso. Este episódio revela artifícios usados por empresas produtoras e consumidoras de plástico – elas burlam leis de reciclagem ao mesmo tempo em que mantêm uma imagem de consciência ambiental. O lixo plástico que devia ser reutilizado acaba sendo incinerado clandestinamente, produzindo gases tóxicos extremamente nocivos à saúde.

Confira “The Recycling Myth”, ou “O Mito da Reciclagem”. Para assistir a outros documentários, confira nossa playlist Documentário BBC: https://youtu.be/JbjlyC_r0Nw.

Vale a pena conferir e tirar suas próprias conclusões!!!

Fonte: BBC Brasil.

Cerca de 43,5% dos rios do mundo têm altas quantidades de medicamentos, diz estudo

23 ingredientes farmacológicos presentes nas amostras coletadas excederam a concentração considerada “segura”.

Um estudo publicado na revista científica Environmental Toxicology and Chemistry descobriu que componentes farmacêuticos foram encontrados em 43,5% dos 1.052 rios avaliados.

De acordo com a pesquisa, realizada localizações fluviais de 104 países, 23 ingredientes farmacológicos presentes nas amostras coletadas excederam a concentração considerada “segura”.

Segundo a autora Alejandra Bouzas-Monroy, da Universidade de York, “esta é a primeira avaliação verdadeiramente global dos impactos de medicamentos únicos e misturas de produtos farmacêuticos em sistemas ribeirinhos”, disse em um comunicado.

Em 461 dos 1.052 locais de amostragem monitorados, pesquisadores encontraram substâncias como antidepressivos, antimicrobianos, antifúngicos, analgésicos, progesterona, bloqueadores de canis de cálcio (usados no tratamento de hipertensão arterial) e outros.

As maiores concentrações cumulativas das substâncias em águas superficiais foram observadas na África Subsaariana, Sul da Ásia e América do Sul, sendo Lahore, no Paquistão, o sistema mais poluído.

Com relação aos componentes, o fármaco mais frequentemente nas amostras foi o carbamazepina (um anticonvulsivante), seguido da metformina (usado no tratamento para diabetes tipo 2) e cafeína (um estimulante e produto químico de estilo de vida), todos detectados em mais da metade dos sistemas monitorados.

“Nossas descobertas mostram que uma proporção muito alta de rios em todo o mundo está ameaçada pela poluição farmacêutica. Devemos, portanto, fazer muito mais para reduzir as emissões dessas substâncias no meio ambiente”, disse Bouzas-Monroy.

Poluição farmacêutica

Um relatório das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) mostrou que 90% dos antibióticos são lançados no meio ambiente ainda como substâncias ativas, por meio de esgotos ou por defecação a céu aberto. Como consequência, os microrganismos resistentes a medicamentos presentes na água podem provocar outra pandemia.

O documento também mostrou que o descarte incorreto de antibióticos no meio ambiente amplia a ameaça da resistência antimicrobiana.

Estima-se que somente em 2015 foram consumidas 34,8 bilhões de doses diárias de antibióticos. O aumento no número de bactérias resistentes aos medicamentos, chamadas popularmente de superbactérias, coloca em risco a saúde de humanos e de animais em todo o mundo.

De acordo com o estudo, para cumprir os objetivos estipulados pela ONU, a poluição farmacêutica precisa ser resolvida com urgência.

“Se quisermos cumprir os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas, particularmente o Objetivo 6, “Água Limpa e Saneamento”, precisamos urgentemente enfrentar o problema global da poluição farmacêutica”, escreveram.

O Objetivo 6 da ONU tem como meta, até 2030, melhorar a qualidade da água, reduzindo a poluição, eliminando despejo e minimizando a liberação de produtos químicos e materiais perigosos, reduzindo à metade a proporção de águas residuais não tratadas e aumentando substancialmente a reciclagem e reutilização segura globalmente.

Fonte: CNN Brasil

Cada brasileiro joga em média 16 quilos de plásticos no oceano ao ano

Estima-se que 150 milhões de toneladas de plástico estejam circulando no mar

Cada brasileiro pode ser responsável por poluir o oceano com 16 quilos de plásticos ao ano. O cálculo foi feito pelo projeto Blue Keepers, ligado ao Pacto Global da ONU. Pelos cálculos do estudo feito pelo Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo, são 3,44 milhões de toneladas de plástico que chegam ao ambiente no país. Isso é um terço de todo plástico consumido no território nacional e que não é reciclado ou reutilizado e acaba poluindo rios e o mar.

O cálculo global que se estima hoje é de 150 milhões de toneladas de plástico circulando no oceano. Isso equivale a um caminhão de lixo cheio de plásticos sendo jogado no mar por minuto. O outro problema é que, com a ação das ondas, os plásticos grandes se tornam microplásticos, o que é ainda mais complicado de ser removido. Há muito plástico já encontrado nos peixes. Em alguns anos, estimam os pesquisadores, haverá mais plástico do que peixes no mar.

A meta do Blue Keepers é reduzir 30% do lixo plástico que vai para o mar no país até 2030. Os dez itens mais encontrados nas praias serão redesenhados ou entrarão na economia circular. A intenção é ter cem cidades com soluções preventivas ao problema.

O primeiro ponto, por agora, é diagnosticar o problema e depois entender o caminho que a poluição plástica faz até entrar no oceano. Chuvas, ventos, topografia, uso do solo, presença de rios e barragens são fatores que influenciam na probabilidade de o plástico chegar ao oceano, conforme a modelagem feita pelos pesquisadores.

O estudo mostra que 67% dos resíduos plásticos com propensão para contaminar o ambiente estão nas bacias hidrográficas “com maior risco de entrada no oceano”, diz o texto do trabalho, que foi divulgado em Lisboa, na Conferência do Oceano da ONU, que acontece esta semana.

O trabalho classificou dez bacias hidrográficas de maior risco para poluir o mar, com grandes desembocaduras de rios. O Rio da Prata é o primeiro, e a baia da Guanabara, o segundo hotspot. Seguem-se, na ordem, o Amazonas, o rio São Francisco e o Tocantins.

O maior desafio do estudo foi ter que lidar com a falta de dados. “Um município interessado em diminuir sua geração de poluição por plásticos precisa saber onde estão as falhas para agir sobre o problema”, diz o texto dos pesquisadores.

“Todos os caminhos levam ao mar, inclusive o lixo proveniente das áreas mais distantes do território brasileiro. Má gestão de resíduos, baixas taxas de reciclagem e de reuso, consumo excessivo, moradias precárias sem saneamento e coleta de resíduos são causas territoriais e comportamentais da poluição crônica dos oceanos”, diz o texto.

No mundo, 140 empresas aderiram a um manifesto para acabar com a poluição plástica. Na conferência de Meio Ambiente em Nairóbi, em março, delegados de 175 países acertaram que é preciso criar um acordo internacional, em 2024, para acabar com a poluição por plásticos.

A pesquisa foi feita entre julho e abril deste ano. Envolveu 12 pesquisadores coordenados por Alexander Turra, professor do Instituto Oceanográfico e coordenador da cátedra Unesco pela sustentabilidade do oceano.

A intenção do projeto é identificar as fontes do plástico em dez cidades brasileiras e buscar soluções entre os setores públicos e privados. O Rio de Janeiro será a primeira e ali as ações vão começar no segundo semestre.

Os municípios que terão ações prioritárias para combater o problema nos próximos meses serão Manaus, Belém, São Luís, Fortaleza e Natal, João Pessoa, Recife e Maceió, Aracaju, Salvador e Vitória, Grande Rio, São Paulo, Santos e Praia Grande e Porto Alegre.

O Blue Keepers é uma iniciativa nacional que busca mobilizar recursos e inovação tecnológica no combate à poluição do plástico em bacias hidrográficas e oceanos, com o envolvimento de empresas, governos e sociedade civil.

“Estamos na Década dos Oceanos, e o Brasil tem e deve ter cada vez mais protagonismo no tema. As empresas são parte do problema e devem ser parte da solução. Temos um longo caminho a seguir, mas o diagnóstico trazido pelo estudo conduzido pelo Blue Keepers e o Instituto Oceanográfico da USP mostra o que precisamos fazer imediatamente, que é criar soluções não somente em áreas costeiras do Brasil”, diz Carlo Pereira, CEO do Pacto Global da ONU no Brasil, no texto enviado à imprensa.

O Pacto Global da ONU reúne mais de 16 mil empresas em 164 países. A rede no Brasil é a terceira no mundo, com mais de 1.500 membros.

Fonte

7 materiais comuns que são sustentáveis ( e você provavelmente não sabia)

Sustentabilidade: Uma palavra que foi inserida em nossas mentes desde o início de nossas carreiras como arquitetos. Assumimos nossa responsabilidade com o planeta e as gerações futuras quando projetamos edifícios socialmente conscientes. De painéis solares a vidros triplos, tentamos de tudo.

Em última análise, trata-se das decisões iniciais que tomamos para a edificação, nossa escolha de materiais tem um enorme efeito sobre o impacto global. Com as novas tecnologias, novas formas de incorporar materiais abundantemente encontrados na pele do edifício podem reduzir a energia incorporada e melhoram as propriedades das estruturas.

Neste artigo, compilamos uma lista de 8 materiais familiares que você não associaria inicialmente à sustentabilidade.

Cânhamo

O cânhamo pode ser usado em um híbrido de concreto conhecido como HempCrete. As fibras de cânhamo são ligadas com cal para criar blocos de concreto que são extremamente leves, reduzindo assim a energia usada para transportar o material ao terreno. O cânhamo em si é um recurso renovável de rápido crescimento que é naturalmente abundante.

Plástico reciclado

Muito parecido com o HempCrete, o plástico reciclado pode ser moído no concreto para reduzir o peso total do mesmo mantendo-o tão forte quanto. Usá-lo como agregado no cimento evita o entupimento do aterro sanitário e pode substituir o agregado convencional que precisaria ter sido extraído.

Pó de aço

Dando outra vida útil ao que teria sido desperdiçado, a poeira de aço (ferrock) pode ser usada para criar um concreto que suporta mais compressão e é muito mais flexível do que o cimento padrão, de modo que poderia potencialmente resistir aos movimentos de terra causados por terremotos ou atividades industriais. Outra vantagem adicional do ferrock é a sua capacidade de absorver e capturar dióxido de carbono enquanto seca, resultando em um processo negativo em carbono.

Cortiça

A cortiça é um material emergente que pode ser a solução da natureza para muitas das nossas preocupações ambientais. É colhida cortando a casca dos carvalhos para serem comprimidos e aquecidos e tornarem-se a rolha que reconhecemos como rolhas de garrafas e agora revestimentos. A casca cria uma elemento de cortiça completamente renovável, impermeável, isolante acústico e resistente ao fogo.

Usado tradicionalmente como isolamento na indústria da construção, a adição de lã e um polímero natural encontrado nas algas marinhas, com a argila do tijolo aumenta a força do bloco em 37%. Esses tijolos secam, então não há necessidade de serem disparados como tijolos tradicionais, reduzindo a energia incorporada. Apesar do que se pode pensar, esses tijolos são mais resistentes aos climas frios e úmidos encontrados frequentemente na Grã-Bretanha.

Palha

Esse é um dos materiais de construção mais antigos conhecidos, no entanto, recentemente houve um reavivamento particular na Escandinávia. Os bolsões de ar dentro da palha são responsáveis por suas qualidades de isolamento, garantindo que o edifício seja quente no inverno e frio no verão, enquanto é um material biodegradável que é facilmente colhido e cresce abundantemente.

Cinza

Outra alternativa é o concreto que utiliza cinzas volantes (AshCrete), um subproduto da queima de carvão para substituir o cimento tradicional; Isso pode criar um concreto composto por 97% de materiais reciclados o que diminui drasticamente os custos. A adição de cinzas volantes para a mistura melhora a resistência e durabilidade do concreto, diminuindo a permeabilidade, para um material de uso prolongado.

Fonte

 

Junho: Mês do meio ambiente e lançamento da Compra Compensada Valora

Conheça a Compra Compensada!

O mês de junho segue com várias atividades em relação a um dos nossos grandes patrimónios.  

O Dia Mundial do Meio Ambiente, comemorado no dia 5 de junho, foi instituído pela Organização das Nações Unidas (ONU), e tem como objetivo principal chamar a atenção de todas as esferas da população para os problemas ambientais e para a importância da preservação dos recursos naturais, que até então eram considerados, por muitos, inesgotáveis.

Com o crescimento dos problemas ambientais, muitos pontos merecem ser revistos tanto pelos governantes quanto pela população para que os impactos sejam diminuídos. Se nada for feito, o consumo exagerado dos recursos e a perda constante de biodiversidade poderão alterar consideravelmente o modo como vivemos atualmente, comprometendo, inclusive, nossa sobrevivência.

Olhando a questão do pós consumo e embalagens, a Valora lançou o serviço de Compra Compensada. Imagina comprar online na sua loja preferida, sem custo adicional e ainda compensar os impactos das embalagens?

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Informações ESG devem vir a mercado a partir de regulação internacional em 2024

A CVM vai passar a exigir mais informações ESG das companhias a partir de 2023, com as mudanças feitas na resolução 59, que ditam as regras do formulário de referência.

O ano de 2024 deve ser o momento em que as informações ambientais, sociais e de governança (ESG) devem ficar conhecidas de maneira mais organizada, a partir de regras estabelecidas por reguladores dos principais mercados de capitais. Essa é a visão de Bruno Luna, chefe da Assessoria de Análise Econômica e Gestão de Riscos, área da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que conduziu um estudo sobre o tema.

“Atualmente não há nenhuma regra de fato para valer. No âmbito internacional, os principais mercados apresentaram propostas e ampliação de transparência de informações ESG, que estão em audiência pública ou em fase de análise. O tema será discutido com reguladores ao longo do ano”, disse Luna, em entrevista a jornalistas.

A tendência será usar o próprio regime de informação já existente para ampliar o rol de informações envolvendo o assunto, completou. Além disso, nenhum regulador do mundo escolheu adotar um padrão único de reporte.

No Brasil, a CVM vai passar a exigir mais informações ESG das companhias a partir de 2023, com as mudanças feitas na resolução 59, que ditam as regras do formulário de referência. Além disso, os fundos de investimentos “verdes” serão regulados oficialmente pela autarquia e há chances de a norma ser destinada a toda a indústria, conforme já noticiado pelo Valor.

“Teremos um conjunto de informações ESG disponíveis a partir de 2023. De certa forma, teremos como colher, em termos de experiência com outros reguladores. Veremos o que eles vão trazer e qual será a experiência do mercado”, afirmou o chefe da ASA. O detalhamento de determinada informação pode ser mais simples para uma companhia e mais complexo para outra. De todo modo, modificações nas regras ao longo do tempo devem ocorrer, visando aprimoramentos.

Grande preocupação hoje dos reguladores do mercado de capitais é com relação ao greenwashing — Foto: Pixabay

A grande preocupação hoje dos reguladores e também dos participantes é com relação ao greenwashing, como mostrou o levantamento publicado hoje. “O mercado tem que cobrar a veracidade das informações. Por mais que tenha maquiagem de informações, diante do mundo transparente que temos hoje dificilmente deixa as coisas escondidas por muito tempo”, disse o gerente de pesquisa e conteúdo no IBGC, Luiz Martha.

Da parte das autoridades do mercado de capitais, inicialmente há maior preocupação em ampliar a transparência e nas iniciativas educacionais, ainda que as principais irregularidades comecem a ser punidas.

Recentemente, a Securities and Exchange Commission (SEC, a comissão de valores mobiliários dos EUA) aceitou um acordo de US$ 1,5 milhão com o BNY Mellon Investment Adviser. A autoridade americana também prepara uma ofensiva contra fraudes ESG em fundos de investimento. Para Luna, a preocupação da SEC pode estar e linha com regras que a CVM já possui. No Brasil, o nome de um fundo não pode induzir o investidor a erro. “A supervisão deve seguir a linha de análise do absurdo. Será o movimento possível na supervisão inicial das informações: punir o
‘elefante rosa'”, disse.

Fonte: Valor Econômico 

Saiba tudo sobre a reciclagem de resíduos têxteis no Brasil

Você já parou pra pensar quantas vezes você usa a mesma roupa? E qual a durabilidade dela? Perguntas como essa colocam a indústria da moda no centro de um enorme problema ambiental e têm obrigado marcas a repensarem seu modelo de negócio e de produção. Isso porque, um volume enorme de material têxtil é desperdiçado todos os anos na confecção de roupas, usadas poucas vezes, e que na hora do descarte seguem direto para o aterro sanitário, sem qualquer possibilidade de reutilização por meio da reciclagem.

A constatação está no relatório A New Textiles Economy, um importante estudo feito pela Fundação Ellen MacArthur, instituição global que incentiva a sustentabilidade no planeta.

“O equivalente a um caminhão de roupas é enviado para o aterro ou à incineração a cada segundo, enquanto menos de 1% das fibras têxteis usadas na produção de roupas são recicladas e destinadas para a produção de novas peças”, diz Victoria Almeida, gerente de comunicação para a América Latina da entidade.

Segundo a profissional, isso representa uma perda econômica anual estimada em 500 milhões de dólares no mundo. Além disso, esse desperdício resulta em altos níveis de poluição. Existe até um termo no universo da moda para este tipo de cultura, em que o consumidor usa uma roupa que está em alta, troca a peça ou descarta e adquire outra que acaba de ser lançada: Fast Fashion.

Por conta disso, há uma urgência de se criar um modelo de economia circular para a indústria da moda. Estes novos tipos de negócio permitem que as roupas sejam usadas mais vezes e também que as peças sejam produzidas a partir de materiais seguros e de fontes renováveis.

Os consumidores são, literalmente, a peça-chave para essa mudança, ficando ainda mais atentos aos impactos ambientais que a produção de roupas causa e exigindo mudanças. “Marcas e designers já perceberam que o atual modelo não tem como funcionar a longo prazo. E, com isso, estão começando a repensar sua forma de produzir e comercializar para que as peças não se tornem um resíduo”.

CENÁRIO BRASILEIRO

Dados da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit), de 2018, indicam que o Brasil é considerado a quinta maior indústria têxtil do mundo e o quarto maior produtor de denim (tecido usado para fazer o jeans) e de malhas mundial.

“O país produziu cerca de 8,9 bilhões de peças ao total, em 2018, incluindo vestuário, cama, mesa, banho, meias e outros itens”, explica Rafael Cervone Netto, presidente emérito da Abit e coordenador da Área de Políticas Industriais.

Ele explica que desse montante, 5,1 bilhões correspondem a apenas peças de vestuário (roupas).  “É um setor que no país movimentou cerca de 50 bilhões de dólares de faturamento”.

Até 2021, em território nacional, a estimativa é de um crescimento de 13% no mercado de moda, o que pode elevar a produção em 6,68 bilhões de peças, de acordo com a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Tanto potencial na indústria têxtil resulta na geração de aproximadamente 160 mil toneladas de resíduos por ano no país. Isso antes da pandemia. “Também estimávamos que 50% poderiam ir para reciclagem”, fala Cervone.

De acordo com Welton Fernando Zonatti, doutor em Sustentabilidade da Universidade de São Paulo (USP) e do Instituto Federal do Rio de Janeiro, o Brasil já conquistou importância e legitimidade no cenário mundial na área de produção de fibras, fios e tecidos. Pode parecer algo positivo para o cenário econômico, porém, gera graves problemas ambientais. Etapas como a produção de resíduos nos processos industriais, especificamente na fabricação de fios, ocasiona muitas sobras e desperdício de tecidos. E o pior: com o descarte incorreto no pós-consumo.

“Por exemplo, só na produção de fios, se for algodão, de origem natural, há o uso de pesticidas, herbicidas e outros produtos químicos para controle de pragas, que podem contaminar o solo e o lençol freático. Se for tecido de origem química, derivados do petróleo, os impactos ambientais se referem ao gasto energético e emissão de dióxido de carbono (CO2) na fabricação”, explica o acadêmico.

SÃO PAULO

Na maior metrópole do Brasil são geradas cerca de 63 toneladas de resíduos têxteis por dia. O dado é da Loga, empresa que faz a coleta na região Noroeste da capital paulista e recolhe os materiais nos locais considerados os polos da confecção: o Brás e o Bom Retiro, na zona central da cidade. A Vila Maria, na zona Norte, também é apontada pela empresa como outro lugar de grande desperdício de peças de roupas.

“Do total, 45 toneladas desses resíduos são da região do Brás, 8 toneladas do Bom Retiro e 10 toneladas da Vila Maria”, conta Francisco de Andrea Vianna, responsável pelo Planejamento e Operação da Loga.

Curiosamente, durante o período de isolamento social em que o comércio esteve fechado, a geração de resíduo têxtil caiu para 62%. Existe outro medidor desse tipo de resíduos na cidade. O projeto Sustexmoda, formado por um grupo de pesquisadores da USP, busca por meio de parcerias soluções sustentáveis para os impactos causados pela cadeia têxtil e indústria da moda.

O grupo criou uma plataforma (acesse aqui) onde é possível ver a quantidade de materiais coletados na cidade desde 2017, ano em que começou a contagem. De acordo com a criadora da iniciativa, a pesquisadora e professora da USP, Francisca Dantas Mendes, os dados são coletados a partir de cálculos que contaram com a ajuda da Amlurb (Autoridade Municipal de Limpeza Urbana) e da Loga.

De 2017 até 2020, foram mais de 29.169 toneladas de resíduos têxteis gerados na cidade, dos quais 23.824 são de materiais de corte produzidos em confecções e o restante de roupas pós-consumo.

Só na região do Bom Retiro, encontra-se uma concentração de aproximadamente 1.200 confecções que produzem cerca de 12 toneladas de sobras de tecidos por dia, de acordo com o Sindicato das Indústrias de Fiação e Tecelagem do Estado de São Paulo, o Sinditêxtil-SP.

As confecções descartam nos aterros sanitários uma enorme quantidade de sobras de tecidos e insumos, como agulhas quebradas, tubos de papelão, papel Kraft usado nos moldes e outros materiais resultantes das produções em grande escala. A ação, além de sobrecarregar ainda mais esses locais, que já estão com sua capacidade comprometida, impede o reaproveitamento desses materiais.

Algumas pessoas não sabem, mas os retalhos, quando limpos e selecionados, são passíveis de reciclagem e reutilização. O Sustexmoda, por exemplo, além de coletar dados para ter referência sobre o quanto se gera de resíduos de tecido na capital, mantém vários projetos que trabalham com as sobras têxteis, como o programa Ubuntu.

A iniciativa oferece oficinas de aprendizagem para produção de tapetes feitos com sobras de tecidos gerados nas indústrias. As aulas são dadas em Centros de Acolhida para pessoas carentes. A atividade possibilita a geração de renda com a venda dos produtos em feiras e bazares.

“Este é um projeto que está comigo desde 2015. Já passaram por nós mais de 500 alunos. É gratificante ver as pessoas em situação de vulnerabilidade aprendendo um ofício. No curso, nós conseguimos para eles, uma carteirinha de artesão para que possam exercer o ofício. Teve uma edição especial, em que eu acompanhei de perto cerca de 15 alunos. Eles tiveram apoio psicológico, pedagógico e voltaram a estudar. Cerca de 30% deles conseguiram se reerguer e sair de uma realidade difícil”, conta a pesquisadora Francisca Dantas Mendes.

Assim como o projeto Ubuntu, existem outras práticas semelhantes pela cidade de São Paulo. A iniciativa da empresa Retalhar, por exemplo, recebe uniformes usados de outras companhias e os envia para cooperativas de costureiras transformarem esses materiais em novas peças.

“As empresas pagam por esse serviço de transformação. Depois que os produtos ficam prontos, elas os recebem de volta. Dessa maneira, elas se adequam a uma logística reversa, reaproveitando as peças”, conta um dos fundadores da Retalhar, Jonas Lessa.

A Cardume de Mães, em Taboão da Serra, na grande São Paulo, é uma das cooperativas que transforma esses tecidos em nécessaires, bolsas e outros acessórios.

“Eu sou muito criativa, gosto de dar ideias sobre o que fazer com os uniformes. A minha renda vem desse trabalho e, com ele, ajudo nas contas de casa”, diz a costureira Herculânia Reis.

COMO É FEITA A RECICLAGEM DE TECIDOS

Existem duas formas de reciclar tecidos: a mecânica e a química. A reciclagem mecânica envolve a picotagem do tecido. Geralmente, as empresas recicladoras que optam por esse método possuem máquinas que rasgam e trituram o tecido. São equipamentos capazes de retalhar de 50 a 3 mil quilos de tecido por hora. As fibras trituradas são transformadas em fardos e usadas pelas indústrias para produzir enchimentos para sofás, sacos de boxe, edredons, carpetes e outros produtos.

Já o processo químico foi desenvolvido para melhorar as características e propriedades das fibras. Somente os tecidos do tipo poliéster, poliamida e elastano (todos derivados do petróleo) podem ser reciclados por meio desse método.

A recuperação química do poliéster, material também encontrado em garrafas PET e outros produtos de plástico, consiste em triturar, secar, limpar, colocar em um processo de fusão e extrusão (saída a força) a uma temperatura de 295° Celsius para se obter fios e filamentos têxteis.

O processo com o tecido poliamida e elastano ocorre separando as fibras de acordo com a cor e a qualidade do fio. Depois, elas são colocadas dentro de um tanque de aço com ácido fórmico. O conteúdo do tanque passa por um filtro que retém uma parte sólida que se forma, uma espécie de espuma.

Esse material é lavado para remover qualquer espécie de poliamida ou elastano. O líquido restante é aquecido em um condensador a 50° C, fazendo com que o ácido fórmico se evapore. Nesse processo, o tecido se transforma numa massa espessa que pode ser reutilizada na indústria têxtil ou química na produção de plásticos.

Ao todo, o Brasil possui cerca de 21 empresas que fazem a reciclagem de tecidos, de acordo com uma pesquisa feita por Mariana Amaral, acadêmica da USP. Uma dessas recicladoras é a JF Fibras, localizada a apenas 50 quilômetros de São Paulo, em Suzano. Em uma área de 12 mil m², a companhia tem se consolidado como uma das maiores recicladoras de resíduos têxteis do país, tornando-se líder no fornecimento de fibras de jeans, malhas, sintéticos e outros tipos de tecidos.

Os fornecedores da JF Fibras são as próprias confecções, indústrias têxteis e cooperativas. “Como eu compro esses materiais que são sobras, eu sempre gosto de olhar antes para ver a qualidade”, diz o proprietário da empresa Carlos Roberto Novelini Júnior. A maioria dos tecidos tem potencial de negociação para o empresário, exceto o poliéster, pois é feito de plástico e demora cerca de 200 anos para se decompor.

Novelini conta que a indústria utiliza o método de reciclagem mecânica composta por maquinários europeus de aproximadamente 20 metros de extensão que são capazes de retalhar e triturar cerca de 1,8 milhão de quilos de tecidos por mês. “A cada dez minutos, 200 quilos de retalhos são transformados em fardos de mantas têxteis, prontos para serem revendidos a outras empresas”.

O maior comprador desses itens é o setor automobilístico. Geralmente, esses materiais servem para enchimentos de bancos de carro, almofadas, ursos de pelúcia e outros itens. O empresário conta que envia esses insumos para quase todas as regiões do Brasil e para outros países da América do Sul e do Norte.

“Como empresa recicladora, acho que estou contribuindo bastante com o meio ambiente, pois os tecidos são reaproveitados e não vão parar nos aterros sanitários do país”, finaliza.

Fonte: Recicla Sampa