Como as abelhas ajudam a agregar R$ 43 bilhões por ano à agricultura brasileira

Principais responsáveis pela polinização das culturas alimentícias, as abelhas agora estão no centro das estratégias conservacionistas na Amazônia

Quando falamos em abelhas, logo pensamos em mel. No entanto, o que poucos sabem é que mais do que produzir esse alimento delicioso, as abelhas têm uma função muito mais nobre na natureza: a polinização de culturas alimentícias e de espécies nativas nos quatro cantos do planeta.

Cerca de 85% das lavouras cultivadas hoje pelo homem dependem da polinização externa realizada pelas abelhas, sejam elas melíferas, aquelas que vivem em colmeias, ou espécies selvagens, de hábitos solitários.

Somente no Brasil, estima-se que o serviço de polinização realizado pelas abelhas agregue nada menos do que R$ 43 bilhões por ano à agricultura, de acordo com o Relatório Temático sobre Polinização, Polinizadores e Produção de Alimentos no Brasil, divulgado em 2018.

E é justamente por isso que o declínio das populações de abelhas em todo o mundo tem gerado tanta preocupação. Causada por um conjunto de fatores, o principal deles as mudanças climáticas, a mortandade vem ligando o sinal de alerta para o problema e colocando as abelhas no centro das estratégias conservacionistas.

“A polinização é importante porque ela influencia no aumento da produção de alimentos. Cerca de 30% do valor econômico das culturas pode ser atribuído à polinização”, afirma Vera Fonseca, professora Titular de Ecologia no Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, que estuda há décadas o tema.

De acordo com a especialista, a polinização agrega um valor superior a US$ 275 bilhões ao ano à agricultura em todo o mundo, montante infinitamente maior do que o mercado global de mel, estimado em US$ 2 bilhões. “O valor da polinização ainda não está tão claro para a maioria das pessoas.”

 

Na Amazônia

Fundamentais para a agricultura em todo o mundo, as abelhas são especialmente importantes no Brasil, onde, além do serviço de polinização, ainda contribuem para o desenvolvimento social e o avanço da bioeconomia, gerando renda aos pequenos produtores e estimulando a preservação do meio ambiente.

Na Amazônia, por exemplo, culturas economicamente importantes como o açaí, o guaraná, o cupuaçu e o cacau têm se beneficiado da presença cada vez maior das abelhas melíferas, criadas por pequenos apicultores e que reforçam o trabalho antes realizado apenas pelas espécies selvagens.

Trata-se de uma relação ganha-ganha: se por um lado as abelhas contribuem para o aumento da produtividade dos frutos, por outro, a biodiversidade disponível possibilita a produção de um mel multifloral de alta qualidade, valorizado no mercado, e que contribui para o aumento da renda dos produtores locais.

“Em algumas áreas de açaí, a presença das abelhas dobrou a produção, com frutos de melhor qualidade”, afirma Luiz Pereira Rodrigues, presidente da Associação de Produtores de Mel de Canaã dos Carajás, organização que conta atualmente com 30 apicultores filiados e produz cerca de 15 toneladas de mel por ano.

Rodrigues explica que atualmente a polinização também é realizada em áreas de reflorestamento, o que tem acelerado a recuperação de áreas degradadas e contribuído para o aumento da produção de mel fora da época de florada das frutíferas. “Temos uma produtividade muito acima da média nacional. Hoje produzimos até 50 quilos de mel por colmeia, mas a nossa meta é chegar a 70 quilos”, diz.

Fundada em 2006, a Associação de Produtores de Mel de Canaã dos Carajás conta com o apoio da Vale desde a sua concepção, quando a empresa forneceu as primeiras caixas e os equipamentos necessários para o início da produção, além do maquinário para o processamento do mel, até os dias de hoje, fornecendo assistência técnica para a capacitação desses apicultores.

“Temos apoiado fortemente a cadeia do mel, uma atividade que traz benefícios ambientais, sociais e econômicos para a região”, afirma Silvia Cunha, gerente de Relações com as Comunidades da Vale no território de Canaã, destacando os novos investimentos para a ampliação em até 50% da produção em 2021.

“Nosso objetivo é preparar as pessoas para que possam ter autonomia para produzir por conta própria e apoiar o desenvolvimento das cadeias produtivas, para que se tornem realmente sustentáveis”, conclui a executiva da Vale.

Fonte: Valor Econômico 

 

 

 

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