O que é Upcycling: importância e vantagens
O que é Upcycling?
Há cada vez mais adeptos do upcycling, no entanto, ainda existem muitas dúvidas sobre o significado concreto deste conceito.
O termo upcycling, que em português significa “reutilização para cima”, vai de encontro com a proposta do modelo da economia circular, cuja ambição é tornar o “lixo” um conceito do passado, propondo a procura de soluções que mantenham os recursos a circular na economia até ao limite da sua capacidade.
Este termo foi popularizado, em grande parte, pela sua utilização no livro publicado em 2002 “Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things” (em português, “Do Berço ao Berço: Refazendo a maneira como fazemos as coisas”) dos autores William McDonough e Michael Braungart.
Esta obra é um verdadeiro marco, pois apresenta uma visão inovadora de como idealizarmos e desenvolvermos os produtos de uma forma ecológica, segura e sustentável, que perpetue a utilização dos recursos. Em 2013, os criadores do C2C foram mais a fundo neste tema, com a publicação do livro “The Upcycle: Beyond Sustainability – Designing for Abundance”.
Segundo estes autores, o objetivo central do upcycling é evitar que os materiais em bom estado sejam descartados, para assim, prolongar a vida útil destes materiais que são vistos como lixo ou desperdício, dando-lhes uma nova vida. Eles afirmam que esta metodologia reduz a extração de matérias-primas virgens da natureza, além de diminuir a poluição e o consumo de energia e de água necessários para a produção de novos produtos.
Exemplo de upcycling: antigo telefone que se transformou numa luminária. Foto de Johnny Briggs (Fonte: Unsplash)
A importância e as vantagens do Upcycling
O upcycling não é somente uma tendência, é uma atitude que todos nós precisamos ter perante o nosso mundo. Utilizar técnicas de upcycling traz muitos benefícios para as pessoas, para o nosso planeta e para as organizações, visto que:
-
Fomenta um consumo mais consciente e uma responsabilidade ambiental;
-
Reduz o consumo excessivo e o desperdício;
-
Diminui a poluição do nosso planeta;
-
Minimiza a quantidade de resíduos gerados;
-
Reduz a necessidade de consumir novas matérias-primas;
-
Abranda a extração desenfreada de recursos virgens da natureza;
-
Modera o uso de água e de energia;
-
Reduz a emissão de gases do efeito estufa;
-
Prolonga a vida útil dos materiais que já se encontram a circular na economia;
-
Potencia a circularidade dos produtos no seu fim de vida.
Upcycling, Downcycling e Recycling: qual a diferença?
O Upcycling, Downcycling e o Recycling são três conceitos que estão relacionados com o reaproveitamento e a transformações de materiais, no entanto, o processo e os produtos gerados em cada um deles são diferentes.
Upcycling significa, como dito anteriormente, “utilização para cima”, onde os produtos gerados geralmente apresentam funções diferentes do produto original e qualidade igual ou superior.
Downcycling, por sua vez, é a “utilização para baixo”, cujos materiais passam por um processo de transformação, gerando produtos com funções diferentes do produto original e com uma qualidade inferior.
Recycling, significa “reciclagem”, onde os materiais passam por um processo de recuperação industrial, dando origem a produtos com funções, qualidade e valor iguais ao produto original.
Note que, comparativamente, o processo de upcycling é “limpo”, pois não utiliza químicos na transformação dos materiais, como acontece nos processos de downcycling e o recycling que, além de utilizarem produtos nocivos à saúde, utilizam uma quantidade muito elevada de água e energia.
No processo de recycling, por exemplo, as garrafas de plástico ou as latas de alumínio, passam por um processo industrial de recuperação (que incluem lavagens e aplicação de químicos), cujas matérias-primas são utilizadas na produção de garrafas e latas novas.
Já no downcycling são misturados diferentes materiais (plástico, alumínio, etc.) com qualidades, texturas e cores diferentes, resultando num produto híbrido e com qualidade baixa. Neste processo, por exemplo, vários tipos de plásticos são misturados entre si, que se transformam, após a aplicação de produtos químicos, em pequenos pedaços de plástico que, geralmente, são utilizados para outros fins, como aplicações de madeira plástica. Na verdade, quando nos referimos aos processos de reciclagem, estamos muitas vezes a falar de downcycling.
“O processo upcycling compreende a percepção de valor em todos os produtos potencialmente descartáveis, de forma a minimizar possíveis impactos negativos ao meio ambiente, por não utilizar energia e produtos químicos como acontece no Downcycling. O material, uma embalagem de biscoito, por exemplo, poderia ser descartada no meio ambiente, sem passar por processos físicos e químicos, podem-se transformar em guarda-chuvas, bolsas e diversos outros produtos de valor. Para tanto, observa-se a necessidade de criatividade agregada ao processo e, principalmente, de tecnologia que configure um processo inovativo.” (MOREIRA et al., 2017).
Exemplos de Upcycling
Felizmente, o movimento do upcycling vêm ganhado um maior destaque na nossa sociedade. O crescimento na utilização do processo de upcycling deve-se, em grande parte, à sua atual aceitação comercial e os custos reduzidos de materiais reutilizados.
E como prova disso, temos muitos exemplos de práticas de upcycling na indústria, na moda, na arte, na decoração e na arquitetura, que podem servir de inspiração para a sua empresa.
Para o brasileiro Christian Ullmann, um dos fundadores do movimento Lixo Invisível:
“O upcycling propõe sim reciclar, porém, aumentando o valor criando novas peças ‘surpreendentes’ para fazer assim um melhor uso de toda a riqueza natural, do próprio material utilizado, da energia usada para a fabricação deste produto/material e especialmente do tempo que foi necessário”.
Upcycling na Moda
A indústria da moda é segunda mais poluente do mundo e tem gerado problemas muito graves não só para o meio-ambiente, mas para os seres humanos.1/4 dos componentes químicos produzidos destinam-se a este sector e a maioria é prejudicial para a nossa saúde.
A queda dos preços das peças de roupas está associado ao movimento do Fast Fashion, onde houve uma considerável redução na qualidade e durabilidade dos produtos, e aumento da exploração humana, sobretudo em países menos desenvolvidos.
Com isso, é de se esperar que a extração de recursos naturais tem sido demasiado acelerada para suprir essa demanda. Segundo a página da Circular Wear, são precisos mais de 2600 litros para produzir uma t-shirt e as roupas podem demorar mais de 40 anos para se decomporem.
O relatório “A new textiles economy: Redesigning fashion’s future”, publicado pela Ellen MacArthur Foundation (2021), aponta para alguns dados preocupantes deste sector, como:
-
A cada segundo, o equivalente a um camião de lixo com produtos têxteis é incinerado ou descartado em aterros sanitários.
-
Todos os anos perdem-se mais de 500 mil milhões de dólares em valor devido às roupas pouco utilizadas e que são raramente recicladas.
Diante destes dados assustadores, fica claro que as empresas do sector precisam urgentemente repensar as suas ações, tornando-as mais circulares e sustentáveis, permitindo assim, gerar valor para a sociedade bem como reduzir a pressão exercida sobre os recursos naturais.
Upcycling na Indústria
Segundo Christian Ullmann, Coordenador de Projetos CR+IED Brasil e um dos fundadores do Movimento Lixo Invisível:
“Todos os materiais e produtos podem ser ‘reaproveitados’. Esta é uma prática antiga – todas e todos já escutaram falar de um ferro velho, uma colcha de retalhos ou o ato de passar o berço para o novo irmão ou prima que está chegando – esta prática sempre existiu no sector industrial e até na própria casa”.
Muitos sectores industriais (têxtil, alimentos, bebidas, automobilística, etc.) geram subprodutos nos seus processos industriais e que podem ser reutilizados para criar novos produtos que irão gerar valor para as sociedades. No entanto, na realidade isso raramente acontece, o que resulta no aumento da poluição, principalmente, gerada pelos resíduos que são descartados indevidamente na natureza.
Esse ciclo contínuo de extração-produção-descarte, que foca no modelo linear, é extremamente nocivo para o meio ambiente e a sociedade. Por este motivo, cada vez mais, encontramos indústrias que conseguem visualizar o poder de reaproveitar estes subprodutos, seja para criar produtos novos, ou para comercializar estes insumos com outros mercados, aumentando a sua lucratividade.
Na perspetiva do upcycling, restos de materiais, por exemplo, que sobram da indústria de tecidos, pode ser reaproveitada para criar outros itens, como revestimento de sofás, tapetes, etc. Além disso, na indústria de automóveis, as peças que apresentam algum defeito podem ser reaproveitadas para criar outros equipamentos, móveis e objetos, ou mesmo serem utilizadas na decoração de um ambiente. O mais importante aqui é ter esta visão mais sustentável, ecológica e holística, que contemple a circularidade.
Fonte: BeeCircular
Deixe uma resposta
Want to join the discussion?Feel free to contribute!